Quem mora em apartamento sabe: a privacidade já era, especialmente em prédios onde o projeto não contempla uma estrutura com isolamento adequado. Além dos espaços comuns, que exigem compartilhamento, os condôminos são submetidos às rotinas uns dos outros. Então é torcer para que a vizinha de cima não chegue de madrugada, com seus saltos agulha, que o bebê da frente não tenha cólicas, ou que não queira mamar de três em três horas, que os vizinhos de baixo não façam festa depois da meia-noite.

A história de hoje está inserida nesse contexto. Um jovem casal, no auge da sua produção de hormônios, anda com a atividade sexual em baixa desde que se mudaram para um prediozinho sem grandes ambições, mas com uma fachada bem simpática. Em compensação, outro casal nem tão jovem, que mora no andar de cima, ferve diária e ruidosamente. O que uma coisa tinha a ver com outra? Tudo! Começa assim:

-Benzinho, tá ouvindo? – pergunta nossa personagem.
-Não estou ouvindo nada… – responde o companheiro, arregalando o olho.
-Abre um vinho. Rápido!
-Amor, melhor não. Esquece os “entretantos”. Vamos direto aos “finalmentes”. Vá que o inferno astral esteja com a chave na porta…

Assim, com a pista momentaneamente liberada, o piloto liga os motores. Ele acelera. Precisa de potência máxima pra erguer o nariz e fazer uma decolagem perfeita. Quando a coisa engrena, os controladores de voo automáticos alertam: pista compartilhada, cuidado! São os frenéticos, lá de cima, que começam o fuzuê.
-Mayday! – é o pedido de socorro do piloto, muito down.
-May God! – é o suspiro da copiloto, estressada.

Com os olhos congelados no teto, o jovem casal fica imaginando as acrobacias do Airbus de cima, cuja cama-box desliza por toda a extensão do quarto, produzindo uma sensação de terremoto. Em pânico, espreitam aquela poeirinha que antecede os desabamentos. Agora não há “azulzinho” que faça o avião arremeter. Viagem adiada de novo.

Situação “deverasmente” preocupante, como diria o prefeito da ficção brasileira Odorico Paraguaçu, o mais perfeito arquétipo da nossa classe política. A continuar o jejum, poderia dar-se a falência do matrimônio. Diante disso, o jovem casal obriga-se a tomar uma decisão drástica: fazer as malas e buscar nova residência.
Pelo que sei, deu certo, pois já circulam, por aí, duas lindas menininhas.

Uma historinha mal cheirosa:
O cara malhado, de camiseta regata, bíceps à mostra, entra no elevador, no décimo andar, acompanhado de seu buldogue alemão. De repente o bicho libera um gás com cheiro de enxofre. Um pouco depois, o elevador para. Uma moça bonita entra. Hesitante, ela fecha as narinas. O cara musculoso, visivelmente constrangido diz: “Foi o cachorro”. Ela faz um sinal que entendeu, e desce no andar seguinte. Com o moral abalado, ele xinga o cão: “Frederico, seu porco, tu é burro mesmo, não aprende nunca, seu animal!” A resposta veio rápida, em forma de xixi, na perna do dono. Macho marcando território é devastador.