OMS aponta que 264 milhões de pessoas têm transtorno de ansiedade no mundo. Brasil lidera o ranking, pois 9,3% da população do país sofre com o problema

A ansiedade é um problema com o qual o mundo não se importava há pouco tempo. Conhecida por muitos como o ‘mal do século’, período que iniciou apenas há 21 anos, deixou de ser considerada como um sentimento de expectativa exacerbada para ser encarada como um problema de saúde que inspira cuidados.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 264 milhões de pessoas têm transtornos de ansiedade no mundo. O Brasil lidera o ranking de ansiosos, com o percentual atingindo 9,3% da população, ou seja, cerca de 19,6 milhões de cidadãos.

Segundo a psicóloga Vanessa Miotto, a ansiedade é uma emoção natural humana que todos sentem em algum momento na vida. Ela ocorre em situações imprevisíveis, incontroláveis e que podem apresentar consequências negativas para o indivíduo, com o objetivo de preparar corpo e mente para lidar com esse tipo de situações “É comum e até esperado ter algum nível de ansiedade. Porém, quando ela ultrapassa esse nível e começa a ser sentida de forma muito mais frequente e intensa, levando a prejuízos na vida da pessoa, dizemos que ela está em níveis patológicos”, explica.

Vanessa afirma, ainda, que uma crise de ansiedade é uma reação emocional de intenso medo e desconforto que pode apresentar sintomas físicos, como tremor, sudorese, sensação de estar ofegante ou com falta de ar, taquicardia, tontura e náusea. Além disso, os sintomas psicológicos também são de grande intensidade e envolvem apreensão, inquietação, preocupações com eventos negativos futuros, pensamentos com características catastróficas, dificuldade de concentração, incapacidade de relaxar, etc.

Situações extremas e imprevisíveis, como viver em meio a uma pandemia, podem agravar o problema. “As constantes preocupações com os cuidados individuais e coletivos, o medo pelas pessoas próximas e a intensa exposição às notícias também se soma ao desgaste e estresse gerados por esse momento que estamos vivendo. Além disso, cobranças por produtividade e por continuar realizando as atividades cotidianas nestas condições também pode aumentar a ansiedade”, enfatiza a psicóloga.

Como o transtorno de ansiedade é desenvolvido?

Conforme Vanessa, existem alguns tipos e transtornos de ansiedade, com diferentes sintomas e condições para se desenvolverem. “Alguns exemplos são o de ansiedade generalizada, o do pânico, o de ansiedade social, entre outros. Para o desenvolvimento dessas condições, existem diversos fatores envolvidos. Desde causas genéticas e biológicas, experiências e aprendizagens durante o decorrer da vida, temperamento e desenvolvimento da personalidade e ocorrência de eventos estressores. Algumas pessoas têm mais predisposição”, sublinha. O diagnóstico, no entanto, deve ser feito por uma avaliação de profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras.

Gatilhos mentais

Segundo a profissional, pode-se entender os gatilhos como desencadeadores de ansiedade que podem ser eventos internos, como pensamentos ou imagens mentais, ou externos, em caso de acontecimentos específicos. “Por exemplo, uma pessoa pode se imaginar reprovando numa matéria e ficar ansiosa. Aqui a imagem mental tornou-se um disparador da ansiedade. Já um exemplo de gatilho externo pode ser alguém ansioso para apresentar um trabalho. A tarefa foi o que ocasionou o problema, neste caso. Para identificar um gatilho você pode se perguntar o que estava acontecendo em sua volta ou o que estava se passando na sua mente quando ficou ansioso”, recomenda.

Para Vanessa, evitar situações que ocasionem esse processo, entretanto, pode levar a um reforço do problema. Isto ocorre porque o que foi evitado vai ficando mais temido, pois reforça a ideia de que é ameaçador e que não se é capaz de enfrentar. “A questão principal em melhorar a nossa relação com a ansiedade é, então, de fazer as pazes com ela, entender que ela é uma emoção temporária, que pode chegar num pico, mas que alivia após um tempo. Saber também que algumas situações podem provocar mais ansiedade do que outras, mas que é possível enfrentá-las aumentando seu senso de capacidade e auto eficácia, além do fortalecimento da autoestima e do autoconhecimento”, destaca.

A dica da psicóloga para tratamento de quadros de ansiedade é, além da intervenção medicamentosa em alguns casos, a prática de exercícios físicos, manter uma alimentação saudável, reservar momentos de descanso e lazer na rotina.

É preciso buscar ajuda

De acordo com o coordenador do setor de Saúde Mental de Bento Gonçalves, Maurice Bowari, transtornos enquadrados como depressão e ansiedade são exemplos de sofrimento que já permeavam o tecido social, mas agora tem se manifestado numa escala ainda maior. “A Covid-19 trouxe à tona e potencializou uma outra pandemia que estava velada socialmente, a dos transtornos mentais, que é melhor compreendida se denominarmos por sofrimento psíquico”, afirma.

Bowari salienta que qualquer munícipe que esteja sofrendo por questões desta ordem e necessite alcançar um atendimento, pode procurar qualquer Unidade básica de Saúde ou entrar em contato com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). “A equipe de trabalhadores da Saúde irá, dentro quadro singular de cada indivíduo, designar o melhor dispositivo de cuidado para ele”, frisa.