As Intervenções Assistidas por Animais (IAAs), praticadas pela psicopedagoga Letícia Casonatto, têm a finalidade de proporcionar benefícios terapêuticos às crianças

Intervenções estruturadas e orientadas para objetivos que incorporam intencionalmente animais na saúde, educação e serviço humano com o objetivo de obter ganhos terapêuticos e melhorar a saúde e o bem-estar, vêm ganhando cada vez mais espaço no Brasil.

Em Bento Gonçalves, o trabalho da pedagoga e psicopedagoga, especialista em Neuropsicopedagogia, Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e com formação em Intervenção Assistida por Animais, Letícia Casonatto, auxilia diversos pacientes, principalmente crianças. Em sua clínica, Letícia trabalha com cães selecionados, socializados e treinados.

A profissional atua desde 2017 com Intervenções Assistidas por Animais (IAAs), ações que utilizam animais como mediadores e facilitadores com a finalidade de proporcionar benefícios terapêuticos. “Dentro das IAAS temos a Educação Assistida por Animais (EAA), essa intervenção tem metas definidas, planejadas e estruturadas. Ela é aplicada por profissionais da área da educação. E tem como objetivo melhorar o sucesso acadêmico, capacidades sociais e função cognitiva. Pode ser trabalhado como forma preventiva das dificuldades escolares ou como motivação para as crianças lerem. O progresso do aluno é medido e documentado”, explica.

Além disso, dentro das IAAS tem a Atividade Assistida por Animais (AAA), que faz parte de interações informais e visitas, normalmente para fins motivacionais. “Essas interações não tem metas terapêuticas. São, geralmente, exercidas por indivíduos que não tem formação na área da saúde, da educação e na maioria das vezes fazem trabalho voluntário”, informa.

A Terapia Assistida por Animais (TAA) também é membro deste grupo de intervenções. “Possui metas definidas, planejadas e estruturadas, devem ser aplicadas por profissionais das áreas da saúde, devidamente habilitados. Tem como objetivo melhorar funções físicas, cognitivas, comportamentais e/ou socioemocionais”, ressalta.

Segundo Letícia, o trabalho que ela e outros profissionais fazem, é muito sério. Ela lamenta que várias pessoas acreditam que basta levar um cão mansinho nos atendimentos e tudo estará resolvido. “O profissional deve ter formação na área e o animal deve ter perfil, além de ser selecionado, treinado e socializado para a função. Levar um cão para um atendimento que não esteja preparado, poderá acarretar uma série de problemas para o animal, configurando até maus-tratos ou mesmo pôr em risco o paciente”, afirma. Ademais, uma condição essencial para acontecer as IAAs é o bem-estar único. “Isso quer dizer que, deve ser bom para todos e só vai ser bom para o cachorro se ele tiver preparado para tal. O profissional que conduz o animal, deve entender de comportamento canino e perceber sinais de desconforto para tirá-lo daquela situação, caso seja necessário”, orienta.

Quando elas são aplicadas?

De acordo com Letícia, a aplicação é iniciada quando se percebe que o cão ou outro animal pode ajudar trazendo benefícios para os pacientes. “É indicado para diversas circunstâncias e dificuldades do dia a dia, além de auxiliar no tratamento das mais variadas patologias, indiferentes da idade. Vemos benefícios em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), dificuldades ou transtorno de aprendizagem, Transtorno de Atenção com Hiperatividade (TDAH), entre outras condições”, menciona.

O animal, juntamente com o psicólogo, pode auxiliar em várias situações de medo, estresse, trazendo benefícios de ordem psíquica, melhorando o convívio social, autoestima e diminuindo os níveis de estresse.

Quais os benefícios das IAAs?

Físicos: aprimora as habilidades motoras finas, auxilia na motora ampla, caminhando com o cão, correndo, se exercitando ao jogar uma bolinha para ele.

Mentais: aumenta a interação verbal, melhora as habilidades de atenção (ou seja, crianças com déficit de atenção tem ganhos bem importantes), desenvolve habilidades de lazer e recreação, eleva a autoestima, reduz a ansiedade e a solidão, além de combater a depressão.

Educacionais: auxilia na linguagem verbal, ajuda na memória de longo e curto prazo e melhora o conhecimento de conceitos. Através de atividades propostas auxilia na alfabetização, compreensão, interpretação, aritmética e diversas habilidades.

Fisiológicos: aumenta os níveis de neurotransmissores, como dopamina (prazer e controle motor) fenilalanina (animo e antidepressivo) e endorfina (analgésico e sensação de bem-estar). Também aumenta as taxas dos hormônios prolactina (vínculo social) e oxitocina (confiança) e diminui o cortisol (estresse).

Quais os resultados?

Conforme a psicopedagoga, muitos pacientes apresentam melhora com as intervenções. “Acontece desde a motivação para ir aos atendimentos. Uma criança com TEA que tinha muita dificuldade em sentar, ouvir, entender ordens e pouco contato visual, demonstrou um avanço significativo em todas as habilidades, bem como a interagir mais e comunicar-se com a presença do animal”, conta.

Outro caso que Letícia recorda é de uma criança que tinha dificuldade na leitura. “Ao ler para o cão, passou a sentir-se mais segura, confiante, calma e foi aumentando sua autoestima. Pois o animal está ali presente sem julgamento e prontamente para ouvi-la. A conexão e o vínculo que fazem são muito grandes, facilitando o processo de aprendizagem”, completa.

Os protagonistas

Na clínica Jeito de Ser, Letícia atua com seus dois cães, a labradora Canjica e o golden retriever Cadu. “Passaram por todos os testes que necessário fazer antes de iniciar os tratamentos com os pacientes, para ver se tinham o perfil, tendências e bom comportamento. Depois foi feita a socialização e treinamento, que começou desde que eram filhotes”, revela.

A escolha na hora de selecionar animais para as IAAs também pode ser pensada ainda antes do nascimento dos animais. “Quando os pais tem um perfil comportamental e uma genética boa, tudo fica mais fácil. Além disso, canis que, desde o nascimento, investem na estimulação de socialização dos filhotes, tendem a ter futuros cães mais preparados para auxiliar nas consultas”, conclui.

Um ótimo começo

Um dos pacientes de Letícia, Lucas da Silveira Fernandes, oito anos, foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos três anos de idade. De acordo com a mãe Juliana, ele já consulta a mais de um ano, mas iniciou recentemente o acompanhamento com o golden retriever. “A introdução do cachorro nos encontros foi pensada para trazer mais calma para meu filho e auxiliar em seu aprendizado. Já vejo bons resultados e ele gosta muito quando o Cadu está presente”, diz.