Rubinho Barrichello!

Tarde de domingo. Despedida das areias brancas e mar azul, com ondas relativamente tranquilas repetindo o refrão “chuááá”… Soluço? Risada? Nostalgia? Aceno?   

Bobagem! Coisas de quem está a quase trezentos quilômetros da vida real. E que não tem pressa de chegar… Será mesmo?   

Quando a ilha dos Lobos ficou para trás, nosso destino, à frente, se mostrou muito competitivo. Três vias disputadas por monstros da velocidade, cada qual exibindo sua potência e impaciência, como se a honra estivesse em jogo. E aí começou o ziguezague. Gente costurando aqui, gente costurando ali, com a imprudência de motos entre os espaços apertados, numa ânsia desenfreada de chegar.

Fiquei pensando, não por muito tempo, que o trânsito estava infernal – Deus me livre de me distrair e acordar no céu – enfim, por um instante, me veio à cabeça um princípio da educação: o processo é mais importante que o resultado. E, aplicando a fórmula no dia a dia, a vida nada mais é que um processo que deve ser vivido sem atropelo de tempo…

Uma virada brusca me acordou das “filosofices”. Um fusquinha cansado de guerra, de cor bege talvez, revelando que, em outra encarnação, fora azul, pintou em nosso caminho. Acho que era uma espécie de elo perdido que levava nas costas o esqueleto de uma cama e um colchonete, cuja lerdeza nos obrigou a ultrapassá-lo.

Nossa tumultuada viagem requeria atenção ao triplo. A pressa crônica e generalizada era mais perigosa do que a pandemia. Menos do “besouro” de 1200 cilindradas, que se mantinha na via central, em velocidade constante – sessenta por hora – e indiferente aos ataques ao seu redor.

Deixamos o espécime que sobrevivera à seleção natural, comendo poeira, e continuamos nossa corrida entre obstáculos móveis, tentando ganhar o pódio. Mas os outros veículos faziam o mesmo, o que tornava nossa missão quase impossível.

Lá pelas tantas, estávamos exaustos. O motorista, pela atenção constante por causa das ultrapassagens e troca de vias; eu, pela tensão constante por causa da pressa do motorista.

Depois de quatro horas produzindo e liberando adrenalina e cortisol, que nos deixou de ombros doloridos e humor de rottweiler, finalmente vislumbramos paisagens familiares. Ufa! Suspirávamos aliviados quando percebemos o Garbus (corcunda em polonês), o Maggiolino (joaninha em italiano), o Escarabajo (escaravelho em espanhol), enfim, o fusquinha brasileiro de cor indefinida entrando garbosamente pela praça iluminada de cidade vizinha. A trinta e oito segundo antes da gente.