Na adolescência, o consumo de álcool ocorria apenas em festas. Depois, quando começou a trabalhar em festas com bebida liberada, o uso aumentou consideravelmente. Um relacionamento que não deu certo foi o estopim: começou a beber todos os dias por se sentir muito sozinha.
Assim, o problema com álcool de S., hoje com 29 anos, começou a afetar todos os aspectos de sua vida, desde o trabalho até a faculdade – a qual teve que trancar durante os momentos mais graves do vício – e o relacionamento com a família. “Teve uma vez, na virada do ano de 2013 para 2014, em que gastei R$ 900 com bebida. Briguei com todo mundo em casa, e aí falaram que iam me internar em uma clínica”, conta a jovem.
Como alternativa, S. resolveu procurar ajuda. No início de 2014, optou por procurar o grupo Alcoólicos Anônimos de Bento Gonçalves, o qual frequenta desde então. “É muito dificíl para aceitar e buscar ajuda. Especialmente para a mulher”, admite.
Vergonha impede busca por ajuda
Mas a história de S., apesar de bastante comum, ainda é exceção quando o assunto é a busca pela ajuda para se livrar do problema do alcoolismo. Muitas mulheres, seja por vergonha ou medo de ser alvo de preconceito, acabam deixando de procurar a ajuda necessária para se livrar do vício.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre cada cinco pessoas que consomem bebida alcoólica de maneira excessiva, uma é mulher. Ainda segundo a OMS, o número era de 20 pra uma há 30 anos atrás. No entanto, apenas 5% das mulheres buscam ajuda. Para homens, o índice é de mais de 18%.
Em Bento, os números impressionam ainda mais. De acordo com informações da coordenação do Serviço de Atendimento Psicossocial – Álcool e Drogas (Caps-AD), apenas 1% dos atendimentos relacionados ao alcoolismo são de pessoas do sexo feminino. Nos últimos três meses, foram 10 homens atendidos, e nenhuma mulher. O último mês que contou com atendimentos femininos registrou dois casos, enquanto sete homens foram atendidos no mesmo período.
De acordo com a coordenadora do Caps-AD, Marlene Demari Webber, o processo de emancipação cada vez mais frequente das mulheres em todos os âmbitos, faz com que as mulheres façam uso em maior quantidade de álcool. E o crescimento do consumo individual é um dos problemas a serem combatidos. Segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), ligado a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o número de mulheres que consomem álcool não aumentou. No entanto, 34% das mulheres admitiram beber mais de uma vez por semana. Entre os homens, o número ficou na casa dos 14%.
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