Sei que os tempos mudaram, graças a Deus! E graças a mulheres como a cientista Marie Curie; a escritora Virginia Woolf; a obstinada lutadora contra a discriminação Angela Davis; a bailarina libertária e naturalista Luz Del Fuego; a inovadora e ousada Marilyn Monroe; a revolucionária da moda feminina, Coco Chanel; a primeira motorista negra de ônibus, Maya Angelou; a abolucionista e humanitária Black Moses Harriet; a brasileira Chiquinha Gonzaga, que trocou o casamento pelo piano; a primeira magistrada britânica, Emily Murphy, que lutou para mudar a lei que dizia: “mulheres não devem ser contadas como pessoas”… Sem falar das operárias que foram queimadas, das feministas que rasgaram os sutiãs em protesto contra a ditadura da beleza, das que batalharam contra a opressão masculina, das tantas outras, famosas ou anônimas, que contribuíram para a mudança da sociedade.

Na mitologia judaica, a luta da mulher pela igualdade de direitos vem desde o início dos tempos. Deus teria criado Adão e lhe enviado Lilith como companheira, que logo mostrou ser avessa a padrões patriarcais de comportamento. Por ter ideias avançadas e não querendo se submeter sexualmente ao homem, Lilith fugiu. Então Adão foi reclamar com o Todo Poderoso, que lhe deu outra companheira, criada a partir de uma das costelas do reclamante. Ela foi chamada de Eva e, assim como a primeira, não era boba. Descobrindo as fraquezas de Adão, fez a cabeça dele e levou-o a comer a fruta da árvore proibida. E aí a diversão rolou solta no paraíso, resultando na expulsão dos dois, como todos sabem.

Trata-se, obviamente, de uma metáfora e por isso mesmo é interessante, pois mostra que sempre existiu a busca feminina pela autonomia, seja de forma sutil ou abertamente.

Enfim, graças a essas mulheres destemidas, reais e mitológicas, hoje eu e vocês temos vida própria. Mas isso não significa que o machismo tenha efetivamente sido morto e enterrado, mesmo aqui, “onde tudo o que se planta nasce”. Alguns resquícios ainda vagueiam pelo pampa gaúcho junto ao vento minuano. Vejam o caso que um menino contou, dia desses, numa roda de amigos:
Ele e o pai viajavam em silêncio, já há algum tempo. Ótima oportunidade para saciar uma curiosidade antiga, sem o risco de levar um tabefe, já que as mãos do homem estavam comprometidas no volante:

-Posso te fazer uma pergunta, pai?

-Fala, Tato! – respondeu prontamente o “cacique”.

-Tu já traiu a mãe?

O homem ficou em silêncio por alguns minutos, sem mexer nem um fio do bigode. Depois limpou a garganta e, com toda a calma, respondeu:

-Olha, Tato, eu nunca gostei de caçar, mas toda vez que encontrei morto, eu comi.