“A Presidente disse que só teve noção do tamanho da crise depois da reeleição”. Ouvi esta frase na noite da última terça-feira, assistindo a um telejornal. Fiquei pasma, sem reação. Só consegui pensar: “Onde ela estava? Em que mundo ela vive? Como assim, só teve noção depois da reeleição?”.

E então: os municípios estão em crise, porque não recebem repasses. O Estado está em crise porque, segundo o atual Governo, o anterior – ou os anteriores – deixaram dívidas, porque os repasses foram trancados, porque o povo não paga seus impostos (nem todos, é claro), porque as empresas sonegam (também nem todas, mas muitas…). E assim por diante… Uma real e verdadeira bola de neve.

A cada dia que passa, com cada pessoa que encontramos, o que mais ouvimos são reclamações e lamentações. Frases do tipo “tudo aumenta, menos o que a gente ganha”, ou então a brincadeira “sempre sobra mês no fim do dinheiro” têm se tornado comuns, nos fazem rir, concordar e ao mesmo tempo refletir.
Até cerca de um ano atrás, estávamos tranquilos porque a crise não havia nos atingido. Mesmo assim, muitos empresários já vinham pisando no freio pois tinham a convicção de que a situação iria piorar. Outros diziam que pior do que estava, não ficaria. Mas ficou.

Nós, simples trabalhadores mortais, estamos remando para conseguir pagar as contas e manter o padrão de vida de classe média. E está difícil. Muitos de nós, se não a grande maioria, estamos adquirindo apenas o necessário. E não estamos sobrando nada.

O que vemos, ou o que vivemos, é um clima de guerra, onde precisamos sobreviver, precisamos comer, precisamos nos vestir, pagar a escola dos nossos filhos, ter nossos momentos de lazer e fazer verdadeiras mágicas para que o nosso salário seja suficiente para não entrarmos em frias com empréstimos, linhas de crédito e financiamentos.

Muitas empresas estão paradas – e não somente empresas de grande porte, como a GM, por exemplo, que deu 20 dias de férias coletivas na unidade de Gravataí – mas pequenas e médias empresas da nossa cidade e da nossa região, que não estão abrindo suas portas nas segundas ou nas sextas-feiras, estão dando feriadões e fazendo de tudo para manter os empregos.

Com relação à política, além da palavra crise, muito se ouve falar em investigações. Investigam aqui, ali, lá, mas não chegam a conclusão nenhuma.

E na realidade, eu também não. Não consigo chegar a qualquer conclusão que seja, porque não consigo mais raciocinar com tantas informações sem contexto, sem precedente, sem nexo, nem noção.

Aproveitando o assunto, vale lembrar que em momento de apuros é melhor recorrer a alguém que não seja uma instituição financeira para tomar empréstimo mais barato. Mas jamais procure agiotas. Nada de ficar pendurado no cheque especial. Com a escalada dos juros, a bola de neve vai ficar maior até o fim de 2015. Pagar o valor mínimo do cartão de crédito ou parcelá-lo deve ficar fora dos planos. Não tem dinheiro para pagar? Procure outro crédito, com juros menores do que as taxas do rotativo, para sanar a dívida. Crédito pessoal disponível na tela do caixa eletrônico é uma furada porque tem juros maiores do que os oferecidos dentro da agência, e sem a chance de negociá-los.

Espero que esta situação seja passageira, e passe rápido. Porque os reflexos dela serão sentidos por muito tempo e, quanto mais tempo a vivermos, mais tempo sentiremos.

Trabalhe, reflita, aguente firme a situação, faça o que for possível para manter seu emprego. E seja bem-vindo a esta realidade pela qual, certamente, preferíamos não passar.