O ano começa e Bento Gonçalves vai entrar no melhor estilo shakespeariano: “ser ou não ser…” Asfaltar a pista do aeroclube e transformar o que é privado em público é o que se deseja. Os prós e os contras desta equação estarão em debate no próximo dia 20 de janeiro numa audiência pública que terá lugar na Câmara de Vereadores. Sim, trata-se de uma terça-feira e o horário é comercial, mas a questão merece ser tratada com a seriedade do horário de trabalho e não à noite quando todos querem ir logo para casa.

O Ministério Público Federal (MPF), a partir do empenho e do interesse do procurador Alexandre Schneider, está acompanhando os passos e os trâmites desta mudança e dos gastos dos recursos da União. Estaria com isto retardando o processo? Parece claro que o trabalho do MPF é exatamente este: num país em que se vê o erário sendo tratado com tanto descaso, zelar pelo bom emprego dos recursos públicos é vital, faz bem à cidadania e não pode ser encarado como retaliação ou má vontade de quem quer que seja.

Além do mais, como se verá pela reunião preparatória transcorrida em dezembro último (reportagem à página 13 desta edição), é importante que não se crie expectativas além da conta. O asfaltamento em si não é garantia de criação de rotas de passageiros passando por Bento Gonçalves. O asfalto certamente trará conforto e segurança aos usuários habituais do aeroclube. Pode até trazer dividendos futuros ao município e ao desenvolvimento econômico, afinal é um equipamento de infraestrutura importante.

Estará se discutindo em que medida se dará o retorno de verbas públicas. A grosso modo, serão empregados 3,7 milhões entre verbas federais e do município. Dinheiro recolhido a partir dos impostos que o cidadão paga e uma grande maioria destes cidadãos não dispõem de condições para usufruir da pista asfaltada. Costuma, isto sim, ficar horas em filas de hospitais ou pronto socorros a espera de um atendimento médico que nem sempre é dos melhores; carece de estradas seguras e escolas de qualidade para seus filhos além de uma cidade mais segura.

No dia 20, é importante que prevaleça a força e a razão de argumentos reais para que a obra siga na forma que atenda o interesse do maior número de partes envolvidas. Sem falsas promessas, sem factoides de cunho político. Que o interesse da comunidade, que o respeito ao dinheiro público e o crescimento da sociedade determinem o que irá acontecer. Para tanto é recomendável que os espíritos estejam desarmados e o espírito público mais desperto do que nunca.