A bento-gonçalvense Elisa Braido, 17 anos, nem concluiu o Ensino Médio e carrega no currículo a classificação em um dos cursos mais concorridos

Imagine o cenário: pandemia da Covid-19, isolamento social, concluir o ensino médio sem aulas presenciais e estudar para o vestibular. Foi inserida nessa situação que a adolescente bento-gonçalvense Elisa Weirich Braido, 17 anos, conquistou um feito memorável: passou no processo seletivo do curso de Medicina.

As aulas presenciais retornaram no início ano. A estudante conta que fica ‘em cima dos livros e cadernos’ por nove horas diariamente. “Tenho aula no colégio na parte da manhã. À tarde, vou para o cursinho e à noite, costumo fazer algumas atividades sobre os conteúdos vistos. No final de semana, aproveito a família e os amigos, mas também faço alguns simulados ou questões”, relata.

O sonho de ser médica vem desde pequena e visitar o hospital era um prazer para ela. Muitas profissões passaram por sua mente, e todas tinham algo em comum: ajudar pessoas. “A pediatra, Raquel Fracalossi, era minha “super-heroína” e inspiração. Quando comecei a aprender mais sobre corpo humano, vi que isso sempre me fascinou. Quando estava lá pelo sétimo ano do Ensino Fundamental, me encontrei na ideia de ser médica e nunca mais larguei. Desde aquela época, só tive mais e mais experiências que confirmaram a minha escolha, mas duas foram decisivas: o dia que entrei em uma UTI neonatal e aquele em que acompanhei os últimos dias de meu avô no hospital. Hoje, vejo que, mesmo que eu não soubesse que Medicina era a minha profissão, isso sempre esteve dentro de mim”, reitera.

Para que Elisa pudesse alcançar o objetivo, foi preciso abdicar de tempo de lazer e enfrentar algumas dificuldades. “Me cobro demais e questionava se estava fazendo o suficiente, se conseguiria entregar a prova ou se daria conta da redação. É uma ansiedade que se não colocar limite, te domina”, exalta.

Diversos fatores contribuíram para a aprovação em um dos cursos mais concorridos e difíceis. Ela comenta que encarar os estudos como uma escolha fez toda diferença. “Foi nesse momento que eu procurei um cursinho pré-vestibular. Todo o apoio e a ideia de que eu havia escolhido, e que não era uma coisa que eu precisava executar, fizeram com que o caminho, que já é árduo, se tornasse um pouco mais leve. Outro ponto muito importante foi ser resistente. Muitas vezes, eu não tinha vontade de estudar ou aquele não era meu dia, mas nessas horas, lembrar o motivo de estar nesse caminho ajuda muito e, principalmente, continuar a viver a vida. Percebo hoje que cuidar de mim e tirar um tempo para ficar com a família e amigos são coisas que, quando em equilíbrio, são fundamentais para uma saúde mental boa. A diferença é feita de acordo com o jeito que a pessoa opta lidar com suas escolhas”, destaca.

O resultado de toda dedicação e persistência veio. No final do primeiro semestre deste ano, a jovem passou na Universidade de Caxias do Sul (UCS), porém, como ainda está na metade do terceiro ano do Ensino Médio, teve que recusar a vaga. “Ano que vem espero ser aprovada em muitas outras. Vou continuar estudando para, quem sabe, conseguir uma (instituição) federal”, menciona.

Entre os muitos planos que ainda pretende realizar, na lista de Elisa está “viajar pelo mundo, poder fazer a diferença para os outros, formar uma família, ter o meu cantinho e ser reconhecida na minha profissão. São pequenos sonhos que se encaixam, mas que me fazem muito feliz”, acredita.

Elisa, a irmã Isadora e os pais Magali e Evandro

Valorização

Leonardo Sartor é professor de química da Elisa e comenta que nunca viu isso acontecer em tantos anos que trabalha na cidade. “Ela fez algo admirável. Estudou quase todo Ensino Médio em casa, sozinha, e é aprovada em um curso em que muitos levam cinco ou seis anos para passar”, ressalta.

Fotos: Arquivo pessoal