Se por um lado a pandemia de coronavírus traz apreensão, dúvidas e medo, por outro, ela pode mostrar o melhor do ser humano. E é dessa forma que a sociedade como um todo precisa pensar neste momento: pelo coletivo. Prova disso é a participação de um apenado do regime aberto, que trabalha como voluntário nas obras de edificação da ala que vai receber 40 leitos no Complexo Hospitalar, em Bento Gonçalves.

Paulo Ricardo Gaieski, de 28 anos, não pensou duas vezes. arregaçou as mangas e colocou a mão na massa juntamente com outros 300 voluntários. A oportunidade surgiu, após a empresa, do ramo moveleiro, onde trabalha com carteira assinada, ter suspendido as atividades, em virtude da propagação do novo coronavírus. Foi então que o rapaz decidiu que poderia ajudar a comunidade concretamente.

De acordo com Gaieski, apesar do erro cometido, o ser humano sempre merece uma segunda oportunidade na vida. Para o jovem, cabe a cada um escolher o caminho que quer seguir. “Sempre trabalhei, me atrapalhei numa escolha que fiz na minha vida, mas acredito que todos merecem uma segunda chance. Hoje trabalho de carteira assinada, não quero saber mais de coisa errada, tirei como lição tudo isso que passei”, garante. “Acredito que a mudança é individual, vem de cada um. Às vezes, falta oportunidade a muitos ex-detentos, mas se eles não tiverem vontade de mudar, eles não mudam”, relata Gaieski.

Durante sua reinserção à sociedade, Gaieski trabalhou em serviços junto à secretaria municipal de Meio Ambiente, por meio de uma parceria firmada entre a Prefeitura e o Sistema de Segurança Integrada com os Municípios (SIM), com o apoio do Poder Judiciário, Ministério Público, Conselho do Presídio e SUSEPE.

Para trabalhar na obra, o voluntário precisou de uma autorização da Justiça que foi prontamente aceita pelo juiz da Vara de Execuções Criminais (VES) de Caxias do Sul, Nilton Luis Elsebruch Filomena.

Para a juíza da 1ª Vara Criminal de Bento Gonçalves, Fernanda Ghiringhelli de Azevedo, Gaieski serve de exemplo à sociedade, quando o assunto é a reinserção do preso ao convívio das pessoas. Uma pessoa que saiu do sistema prisional e está voluntariamente em uma obra que reverterá em benefício de toda a comunidade. Isso é gratificante, ver que tem pessoas que se recuperam, sim. Apesar de toda a carência do nosso sistema prisional, ainda há reeducandos que conseguem se reintegrar a sociedade, admitir que erraram e não praticar novos delitos. Eles merecem oportunidades, isso é ressocialização”, ressalta a magistrada.

Foto: Divulgação / Prefeitura de Bento