Nos últimos dois meses, a Brigada Militar (BM) realizou etapas da “Operação Avante”, contando com reforço no policiamento para o combate aos crimes. O objetivo da ação, de acordo com as autoridades, é de coibir e prevenir delitos na Capital do Vinho.

Ainda no mês de julho, uma ação desenvolvida pelo Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGIM) e com a parceria de diversos órgãos de segurança, inclusive a BM, foi realizada no dia 15. Já no mês de junho, a área de atuação do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas recebeu apoio nos últimos 10 dias do mês, com reforço de efetivo. Uma das ações ocorreu na Praça Centenário, em 22 de junho, quando diversas pessoas foram abordadas com o objetivo de coibir o tráfico de drogas.

No entanto, o tema causou divergências e levantou polêmica entre os leitores do Semanário. De um lado, há quem considere a forma das abordagens desproporcional e seletiva. Do outro, há quem dê razão para as forças de segurança, afirmando ser necessária a postura para combater e coibir os crimes na cidade. Para elucidar as questões, ouvimos os dois lados do debate.

De acordo com o professor e sociólogo Guilherme Howes, esse tipo de estratégia tem sido largamente utilizada pelo comando da Brigada. “São feitas ações em locais de movimentado passeio público no sentido de impactar a opinião pública sobre ações preventivas da polícia. Se forem executadas a partir de um anterior e estratégico plano de inteligência, tendem a ter resultados muito satisfatórios; entretanto, da maneira como vêm sendo conduzido pela polícia militar, apenas demonstra o tanto que a corporação está enfraquecida frente a uma população que cobra ações mais efetivas da polícia”, afirma.

Ainda segundo ele, essas ações podem ser consideradas tentativas de causar na opinião pública apenas uma sensação de segurança, mas não uma segurança efetiva. Na opinião de Howes, a pasta da segurança pública é de altíssimo orçamento, e não está entre as prioridades do atual Governo Estadual. “Investir em inteligência, incrementar planos de carreira, qualificar salários e treinamento, adquirir equipamentos (armamentos e de proteção) modernos e em condições efetivas de uso são de altíssimo custo. Essas seriam estratégias reais de qualificação da corporação e da segurança pública”, comenta o especialista.

Brigada diz que segue protocolos

Questionada a respeito, a Brigada Militar (BM) afirma que segue os protocolos de abordagens pré-definidos. De acordo com o capitão do 3º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPAT), Diego Caetano de Souza, as condutas possuem normatizações pré-estabelecidas. “A forma como as abordagens ocorrem visam garantir a segurança tanto de quem é interpelado quanto do policial que está exercendo sua função”, afirma.

Segundo ele, a falta de naturalidade ao agir após ver a polícia, ou ainda veículos com características semelhantes a utilizados em crimes recentes, podem levar a padrões de comportamentos que fazem com que alguém seja abordado. No entanto, o capitão nega que seja levado em consideração características físicas, por exemplo.

Segundo ele, é uma reação natural que as pessoas fiquem incomodadas ao serem abordadas, já que ninguém gosta de ser fiscalizado. “Às vezes dizem que não precisa essa quantidade de procedimentos, mas são questões importantes que, se não forem cumpridas, podem custar a vida dos envolvidos”, pontua.

A Brigada Militar oferece um canal de reclamações para quem se sentir constrangido ou lesado em abordagens. Nesses casos, a corregedoria instaura procedimentos para apurar se a conduta dos agentes está dentro dos protocolos ou não. “Basta vir na BM e informar a ocorrência”, conclui.

Temática já foi discutida nas páginas do Semanário

O tema das abordagens já foi discutido no Jornal Semanário. Na edição de 21 de janeiro, a reportagem ouviu moradores e líderes de bairros sobre o tema. Na época, o assunto também dividiu opiniões. O vice-presidente da Associação de Moradores dos bairros Conceição e Tancredo Neves, João Luís Guedes, destacou o trabalho coletivo entre comunidade e Brigada Militar.

Já moradores de diferentes bairros se dividiram entre os que pediam mais abordagens e mais efetivos e os que falaram que já haviam sido vítimas de excessos da Brigada Militar, especialmente por parte do Pelotão de Operações Especiais (POE).

Um residente do bairro Tancredo Neves, que à época preferiu se identificar apenas como Rodrigo, de 20 anos, afirmaou que já havia sido abordado pela Brigada Militar e que houve excesso. “Foram muito rigorosos. Me pararam pensando que eu tinha algo, mas eu não tinha nada. Sou trabalhador”, desabafou.

Já Matheus Bordignon, de 20 anos, residente do bairro Ouro Verde, contou à reportagem que há poucas abordagens. “Precisaria mais, de noite ficam muitas pessoas consumindo drogas aqui no bairro”, comentou o jovem. A BM manteve o posicionamento, e afirmou que segue protocolos.