Diante da corrupção tsunâmica escancarada principalmente pela Lava Jato e seus desdobramentos, a nação inteira se insurge contra os políticos:

-Polítici ladri! Tutti corrotti! – vocifera o colono enquanto separa o trigo do joio: produtos para consumo próprio – sem agrotóxicos – e produtos para venda – bonitos, lustrosos, grandes e… envenenados.

-O povo não aguenta mais! – comenta o dono do posto enquanto adiciona etanol anidro ao combustível, para aumentar os seus lucros.

-O empresariado tem que sustentar essa corja de vagabundos! – desabafa o fabricante de laticínios enquanto mistura amido de milho, soda cáustica e água oxigenada ao leite, para mascarar o produto azedo.

-A gente trabalha dia e noite pra garantir o sustento da família, e eles “robam” milhões! – explode o dono do mercado enquanto etiqueta novamente os produtos vencidos, para voltarem às gôndolas.

-O Brasil não é um país sério… – comenta a sacoleira enquanto vende badulaques contrabandeados do Paraguai.

– “Zilhões” foram desviados aos paraísos fiscais! – explica o farmacêutico enquanto manipula o remédio adicionando substâncias perigosas e não aprovadas.

-Cadeia pra eles! – grita o trabalhador enquanto faz um “gato” para puxar a água do vizinho até o seu terreno.

-Imposto, impostos, impostos… Só pra eles engordarem as contas na Suíça – reclama o sonegador enquanto troca de “maquininha”.

-A corrupção pública está minando a resistência dos brasileiros – declara o administrador enquanto empurra o débito para o futuro, prevendo uma renegociação vantajosa.

-É uma pandemia nacional pior que a dengue e a zica! – sussurra a recepcionista enquanto aceita um mimo para alterar a ordem dos processos.

-Um absurdo! – queixa-se o médico enquanto assina o ponto de chegada e vai pra saída, em direção ao seu consultório particular.

-Elite exploradora – indigna-se o professor enquanto expõe o aluno a apenas uma visão política, não respeitando sua autonomia de pensamento.

-Abaixo a corrupção! – brada o universitário enquanto usa as teclas Ctrl-C, Ctrl-V em seu trabalho final.
Embora em graus diferentes, todos temos nossos segredos inconfessáveis, que vão do chamado jeitinho brasileiro à transgressão. E foi no meio desta sociedade carente de ética que os políticos aprenderam a ser canalhas, pondo em prática sua canalhice quando a oportunidade apareceu.

Então, tudo está perdido? Dizem os analistas que nunca se esteve tão perto da mudança. Mas para que ela aconteça efetivamente, além da atuação da Lava Jato e seus desdobramentos, é preciso que o indivíduo exija de si ações éticas, que vão se estender na família, na escola, na comunidade e assim por diante…

“Povo honesto não produz políticos corruptos” (Leandro Karnal).