Em minha fala, por ocasião do Lançamento da 31ª Feira do Livro, disse que, se “quem escreve abre uma janela” (MQ), quem lê abre várias. Vou contar um fato da minha história pessoal, para ilustrar como vejo a leitura.

Quando mais jovem, garanti a mim mesma que jamais sairia do chão. Ou seja: jamais viajaria de avião. Então para reforçar essa fobia que, de tempos em tempos, era reforçada por acidentes aéreos, acordei de um sonho, certa manhã, com a seguinte mensagem do além, traduzida na primeira pessoa: vou morrer aos 55 anos. Assustador saber, de repente, que meu passaporte para a viagem derradeira, estava pronto. Poderia ter esquecido o evento, como esqueci tantos outros, mas aquilo ficou martelando na minha cabeça. Então completei a data limite para tomar o andar de cima… ou debaixo. Fiquei no suspense de julho de 2005 a julho de 2006.

Nesse meio tempo, participando de um concurso literário de Caxias do Sul, fui contemplada com o primeiro lugar, cujo prêmio era uma viagem para dois ao Nordeste, com estada por uma semana. “Ir ou não ir?”, era a questão. Não fui! Se ao menos tivesse sido um ano antes, ou um ano depois… Mas tinha de ser justamente em setembro, tendo completado 55 em julho? Aquilo pareceu uma conspiração do Universo. Se tivesse que acontecer o pior, que fosse aqui embaixo mesmo.
Bom, como nada me atingiu naquele ano, nem um raio, nem a queda de uma marquise, nem a influenza, nem a telha de brasilit que despencou durante um temporal, aqui em casa, na virada de idade – Ufa! – senti que viveria para sempre. E comecei a mudar meus conceitos… Até que, no ano passado, finalmente e literalmente, tirei os pés do chão, rumo à Europa.
Sentada perto da janelinha, fiquei extasiada. Primeiro, acompanhando a decolagem, aquela virada para ganhar altura, penetrando nas nuvens, sobrevoando as nuvens, vendo aquele mar de nuvens… Incrível! Experiência singular! Cidades se distanciando, natureza, cordilheiras, picos brancos de neve, quadrados verdes, retângulos cinzentos, losangos roxos, azuis, lilases… E o oceano… Tudo fica pequeno e colossal ao mesmo tempo. O Mundo aos pés!

Acredito que seja assim com a leitura. Cada livro vai abrindo uma janelinha e descortinando novas paisagens, oferecendo novas possibilidades. Um olho vê, outro sente. E a imaginação voa… E a vida jamais será igual outra vez.
Diz David Ogilvy, o pai da propaganda, que “Grandes ideias vêm do inconsciente. Mas o inconsciente deve estar bem informado, senão a ideia será irrelevante”.

Boa feira para todos nós, e que possamos alimentar nosso espírito com muita leitura. Quem sabe, surjam ideias novas e novas propostas e novas posturas e uma sociedade mais humanizada e um mundo melhor.