Meninos sempre aprontam – quando pequenos, porque são hiperativos e, depois de grandes, porque são folgados. Os pais nunca sossegam… até eles juntarem os trapos com alguém e mudarem de endereço. Mas, com essa história de “casa e descasa”, voltam as preocupações. Já os pais de meninas garantem que o futuro lhes reserva mais apreensão e noites mal dormidas. Pode ser. Mas, ao menos, a infância das baixinhas é relativamente tranqüila. Eu nunca vi nem ouvi falar de meninas tirando couro de cobra como se descascassem banana; ou explorando o mato, guerreando com bodoque, voando ladeira abaixo de bicicleta e de carrinho de rolimã, incendiando, lutando, batendo, apanhando… Se bem que hoje em dia, as coisas andam pacatas por causa do computador, mas nem por isso, menos perigosas…

 

Feito o preâmbulo, vamos à história:

 

Verão, férias, calor, pescaria… Lá pelas nove da noite, o jantar foi servido: tilápias fritas, pão e cebolinhas no vinagre. A rapaziada curtia o “maná” regado a cerveja, quando…

-Putz! Engoli uma espinha…

-Desceu?

-Tá na garganta…

-Pessoal, pão pra ele! Acabou o pão? Cebola, manda cebola! Come, cara! Não passou? Bebe cerveja!

Depois de um vidro de cebola e alguns copos de cerveja em vão, o moço foi levado ao Pronto Socorro. Munida de uma lanterninha, a plantonista ordenou:

– Faz “áááááááá”…

– A senhora tem certeza? – perguntou o paciente.

– Claro! Não posso enfiar a pinça no ouvido – respondeu a médica, que não estava para brincadeiras àquela hora.

Ele abriu a boca… Ela cutucou a faringe…

Ele quase vomitou… Ela quase desmaiou…

 

Por motivos óbvios, não foi possível a remoção da espinha. O procedimento foi marcado para o dia seguinte, com um tempo mínimo de jejum em função da anestesia geral.

Nem é preciso dizer que a noite foi traumática, especialmente para a mãe, que, de hora em hora, ia ver se o filho respirava. Finalmente amanheceu. O pesadelo estava chegando ao fim.

Na sala cirúrgica, o rapaz recebeu um pré-anestésico, que o deixou bem alegrinho. Então o anestesista quis dar uma olhada no “problema” e…

– Opa! Peguei! Olha só, tem três centímetros… Dois enfiados no gogó.

Tudo resolvido sem novos traumas. A plantonista, liberada, foi tomar um café, e o rapaz… Bom, como estava meio tonto, aguardou o efeito passar. Perambulando de um lado para outro, constatou surpreendente bom-humor na sala de recuperação. Só entendeu quando sentou num banco gelado: estava com o bumbum totalmente descoberto.