A pornografia faz parte da nossa vida. Para o senso comum, o pornográfico é o que “mostra tudo”, porém, cada época tem sua visão de significado. Hoje, sem fazer nenhum tipo de estudo sociológico, sem referências cinematográficas ou religiosas, vejo que a pornografia é tão frequente, e não mais como tabu, mas como uma espécie de “vai ou racha” em diversas situações. Cardápios de corpos, momentos e opiniões vazias são jogados nas ruas todos os dias, como panfletagem em dia de eleição.

Segredos nunca mais foram segredos. “Só vou contar para você”, disseram as sete pessoas que passaram pelo telefone sem fio. Intimidade deve ser escancarada, conhecer alguém aos poucos já não é muito moderno. O interessante mesmo é arrancar a porta do banheiro, quanto mais tempo junto, melhor, não é?

Decotes e olhares não têm mais o mesmo efeito. Ou pelo menos, o efeito que eu imagino que já tiveram. Foram, de maneira homérica, desvalorizados. Eles são acessórios – pode ‘cortar a cabeça’ – de um corpo que deve estar nu, em posições bem diferenciadas.

Reclamo das cantadas sem noção, do excesso de “sinceridade”, do romantismo barato, mas é o que temos para hoje. E nem disse que quero, mas é o que está sendo ofertado, estão servidos? O que era ruim, intensificou-se com a quarentena. O que era bom, descobrimos que era ruim. O momento não é propício, as opções estão escassas, rasas e carentes.

A conotação de pornografia pode ser muito diferente para cada um, o que lhe parece ser grosseiro pode ser belíssimo para mim. Eu gosto é da sutileza. Acredito até em um sutil pontapé mortal. Não sei se mais alguém sente, mas acho que o nome é “pegada”, ou jeito. Não é aquele tapa que não quer sentir o alvo, nem aquele “tudo bem” que não quer resposta. É uma ação que espera, com prazer, uma resposta da reação, porque se importa. Não é sexy?

Podemos nos vestir como quisermos. Muita roupa, pouca roupa, nada de roupa (acho que na rua não dá para sair assim, confirma? é lei ainda? já foi? enfim…). Não é um julgamento de como as pessoas se vestem, ou o que fazem. É um grito de desespero por ver tanto detalhe desaparecer com o tempo, com o novo século, com a ‘nova moda’. Para onde estamos indo com essa pressa? Se for uma metodologia de evolução, prefiro tentar as provas de proficiência.

Qualidades como sinceridade, senso de humor, capacidade de diversificar assuntos são, sim, capazes de chamar a atenção de alguém além do físico, e tornam-se qualidades sensuais. Até que um dos dois não consiga lidar com a opinião do outro, ou com o “não” recebido, ou pelo simples fato de que não é nada disso de ‘personalidade forte’, a pessoa só é chata para caramba! Vide início do parágrafo – qualidades: não são títulos, são méritos. São reais, você que lute! É fácil achar sexy uma pessoa que é inteligente, humilde e linda (sim, ainda tem isso de achar que são coisas opostas), mas você consegue lidar com isso ou é só falatório? Ou vai achar que se ela não te quiser, estará sendo prepotente, não estará dando valor ao que realmente vale a pena (que é você, bb) entre tantos outros nomes escrotos que você vai achar para dar a ela?

A pornografia faz parte da nossa vida. Mais do que nunca, com tanta força e frequência, que perdeu toda a graça.