Na última entrevista da série com as autoridades de segurança pública de Bento Gonçalves, o capitão do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas, Diego Caetano de Souza, comentou o trabalho desenvolvido em 2016, as dificuldades enfrentadas pela Brigada Militar e a expectativa para o trabalho no próximo ano.

Jornal Semanário: Qual avaliação é possível fazer do trabalho da BM no ano de 2016?
Capitão Diego Caetano de Souza: A avaliação que estamos fazendo internamente é de que, apesar de todas as dificuldades, foi um ano muito positivo. Isso porque tivemos, desde abril, uma redução considerável de efetivo. Na verdade, o ano inteiro estamos tendo perda de efetivo. Isso ocorre pela ida de militares para a reserva ou também para outras áreas, deixando a Brigada e indo para a Susepe (Superintendência de Serviços Penitenciários), entre outros. Também tivemos uma ação conjunta na qual a Brigada Militar precisou focar a atenção para a região metropolitana e, por conta disso, o CRPO Serra cedeu muitos militares para atuar na Operação Avante, em Porto Alegre. Aqui em Bento Gonçalves, por exemplo, foram 13 servidores que, ao longo do ano, permaneceram na região. Mesmo assim, tivemos reduções de alguns indicadores de segurança pública, e um número alto de prisões. O nosso trabalho de prevenção e manutenção da ordem pública foi realizado com sucesso, e os números indicam isso. Bento Gonçalves além de já contar com mais de 114 mil habitantes, recebe um grande número de turistas ao longo de todo o ano, e isso movimenta a economia. Isso gera a possibilidade de aumento nos delitos. Esses turistas são vítimas de roubos de veículos, roubos a pedestres, entre outros. E nós, aqui, com todas as dificuldades que temos, precisamos conter isso. Mas, mesmo assim, tivemos um ano muito positivo. E quem merece comemorar esses dados são os policiais que estão na rua. Eles seguraram a criminalidade, se dedicando apesar de todas as dificuldades, para que a gente pudesse estar obtendo números positivos.

JS: Qual a importância do trabalho do setor de inteligência para a redução da criminalidade?
Caetano: É um setor que precisa ser cada vez mais preparado e equipado, pois nos auxilia na tomada de decisões, visando inclusive a prevenção, que é o que precisa ser feito e trabalhado com mais atenção. Nosso setor de inteligência conta com um número baixo de servidores, mas que precisa ser aumentado e melhor equipado. Muitas das prisões que fizemos contavam com indicações e levantamentos de dados feitos por esse setor.

JS: O efetivo é a principal dificuldade?
Caetano: A redução de efetivo é uma dificuldade no Rio Grande do Sul inteiro. Isso tem um impacto direto no planejamento e na gestão. O que acontece é que temos que aprender a lidar com essa dificuldade. Mas existem outros pontos, como a questão financeira, por exemplo. Sabemos que o Estado está com dificuldades. Diante disso, se o município não ajudar, quem tem a ganhar é a criminalidade. Além disso, temos que enxergar o próprio papel da sociedade. É preciso haver uma participação maior. Há muito envolvimento com o tráfico de drogas, seja direta ou indiretamente. A sociedade precisa se insurgir e ser mais participativa no combate a criminalidade. O número de homicídios no Brasil passa de 60 mil. Isso é uma guerra. E não dá para aceitar isso com tranquilidade. A sociedade precisa atuar mais ativamente. Seja fazendo o papel preventivo, mas também colaborando com os órgãos de segurança. Programas sociais precisam ser mais apoiados. Não adianta a gente trabalhar única e exclusivamente na repressão.

JS: E em relação a viaturas e equipamentos?
Caetano: Durante o ano, a gente passou por momentos difíceis. Mas recebemos o apoio da comunidade, até porque tivemos muitos acidentes e viaturas com problemas mecânicos. A cidade é composta por muitas subidas e descidas, com vias não pavimentadas. Por conta disso, acabavam quebrando. Mas, com o apoio, elas foram consertadas. Hoje contamos com bastante veículos, mas enviados frequentemente para a manutenção. Em breve deve haver uma necessidade de trocas, para que possamos trabalhar em melhores condições. Mas, hoje, não é problema. Na questão dos equipamentos e armamentos, contamos com o apoio do Consepro (Fundação de Apoio à Segurança Pública de Bento Gonçalves) e do Estado, naquilo que pôde ser enviado. Então isso não é um problema para nós. Nossos problemas de equipamento são com questões do dia a dia da parte administrativa, como falta de cartuchos de impressora, por exemplo. Mas contamos com doações da sociedade e entidades, que nos ajudam. A situação é essa, porque se dependermos só do Estado não tem condições. Temos alguns momentos de crise, mas somos auxiliados por órgãos e pela comunidade.

JS: Como a Brigada Militar vê a questão da reincidência criminal?
Caetano: Os presídios estão cheios, há presos amontoados, e eles são soltos e retornam a praticar delitos. Existe uma série de coisas que precisam ser trabalhadas. A reincidência criminal é um dos fatores que mais prejudica o trabalho da Brigada Militar. E não adianta jogar a responsabilidade em cima do Poder Judiciário, que faz cumprir as leis. Por conta disso, é preciso que seja dado muito apoio não só para a Brigada Militar, mas para as forças de segurança pública em geral.

JS: Como é o trabalho em conjunto com a Polícia Civil?
Caetano: São atribuições diferentes. Enquanto à Brigada Militar compete o policiamento ostensivo e a manutenção da ordem pública, a Civil é a polícia judiciária, que realiza as investigações. Na região, temos um excelente relacionamento e uma boa integração. Tanto é verdade que, em muitas ações ao longo do ano, houve essa parceria. Isso é um dos fatores importantes para que consigamos apresentar resultados positivos no que diz respeito à redução da criminalidade. Temos que trabalhar e cada vez mais unir forças para atuar conjuntamente. Foi assim nesse ano, e esperamos que em 2017 a gente consiga manter essa boa relação. Quem tem a ganhar com isso é a sociedade.

JS: Quais as expectativas e projeções para 2017?
Caetano: Estamos nos preparando para ter um ano mais difícil do que de 2016. Foi um ano de demissões, de falta de empregos, e que a economia apresentou encolhimento. Esse ano de 2017 estamos prontos para atuar num cenário com esse patamar ou até maior. Esperamos que, do ponto de vista de gestão, consigamos receber um aporte de efetivo para aumentar o número de policias da região. Então a expectativa é que venham servidores das novas turmas para cá, e que a gente consiga o apoio da comunidade. Não apenas na questão do apoio financeiro. Precisamos da comunidade participando e debatendo a questão da segurança pública.

Leia mais na edição impressa do Jornal Semanário de sábado, 31 de dezembro de 2016.