No período pós enchentes, diversas vias foram danificadas, enquanto alguns dos problemas foram resolvidos, outras restrições perduram até hoje

As rodovias que cortam Bento Gonçalves e arredores, desempenham um papel crucial para a mobilidade local, conectando cidades e facilitando o transporte de bens e pessoas. Entre as principais estradas, estão as rodovias federais, geridas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), as estaduais sob responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) e as pedagiadas, administradas pela Concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), que atua na Serra e no Vale do Caí; e pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).

No período pós-enchentes, algumas destas estradas têm sido drasticamente impactadas, em especial, a BR-470, no trecho entre Bento Gonçalves e Veranópolis, que tem operado em sistema de “pare e siga”.

Baseando-se neste cenário, a reportagem do Semanário traz um panorama das rodovias federais, estaduais e pedagiadas nos arredores de Bento Gonçalves. Destacando os principais problemas enfrentados, as projeções a curto prazo e as opiniões dos motoristas que utilizam essas estradas.

BR-470

O DNIT é o responsável pela gestão e manutenção de rodovias federais. Em Bento Gonçalves e região, a autarquia administra a BR-470, que conecta Bento a outras cidades, como Veranópolis, Nova Prata, Garibaldi e Carlos Barbosa. Com exceção do trecho entre os quilômetros 220,5 e 233,5, que está sob concessão da CSG, o DNIT é responsável pela integridade da rodovia, incluindo pavimento, conservação e sinalização. Em entrevista ao Semanário, o órgão informou a atual situação da BR-470. “No geral, a rodovia está em boas condições, tanto de pavimento quanto de sinalização, com exceção de algumas áreas em obras”, informa.

A BR-470, em grande parte sob administração do DNIT, é uma das principais vias na região, ligando Bento Gonçalves à outras cidades, como Garibaldi, Carlos Barbosa, Veranópolis e Nova Prata (imagem: Augusto Arcari)

Um dos trechos da BR-470 severamente afetado durante as enchentes de maio, foi a estrada entre Bento e Veranópolis, especialmente nas proximidades da Serra do Rio das Antas, que até hoje não retornou totalmente à normalidade. Ao visitar o local, em maio, o diretor-geral do DNIT, Fabricio de Oliveira Galvão, ficou impressionado com a magnitude da destruição. “Aqui ficava uma rodovia que não existe mais”, disse.

Um dos principais fatores para a deterioração da rodovia, foram os deslizamentos de terra. Em maio, o superintendente do DNIT, Adalberto Jurach, mencionou que mais de 50 pontos críticos foram registrados, sendo que alguns destes danos ocorreram próximos à ponte do Rio das Antas, obrigando as equipes do órgão a iniciarem obras intensas para reparar o estrago causado.

Em agosto, o DNIT e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) implementaram o sistema de comboios no trecho entre o km 185 e o km 202, que vai do Belvedere do Espigão, em Veranópolis, até a Vinícola Cainelli, no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, com horários fixos para controlar o tráfego durante a realização das obras. O objetivo era evitar paradas desnecessárias, mantendo a segurança durante os reparos. No fim de setembro, o tráfego passou a ser controlado por “pare e siga”, funcionando das 7h às 18h, com ajustes em função das condições climáticas. Posteriormente, o horário padrão deste regime foi estendido, passando a operar das 5h30 às 19h. O sistema se mantém até o presente momento.

Os trechos da BR-470, nas proximidades da Serra do Rio das Antas, foram severamente castigados pelas enchentes, e ainda sofrem restrições, com as estradas operando no sistema de “pare e siga”

A previsão é de que a conclusão total das obras de recuperação de mais de 46 quilômetros da rodovia dure bastante tempo. No km 189 da BR-470, as equipes do DNIT realizam a contenção do movimento do solo no topo de um corte de rocha, enquanto simultaneamente trabalham no alargamento da plataforma, que atualmente é restrita a apenas quatro metros de largura. Essas intervenções são essenciais para garantir a estabilidade da via e a segurança dos motoristas, e devem continuar até o final de 2024. Além disso, o DNIT também impôs restrições no km 190 e km 200 devido à execução de grandes obras de contenção e segurança, que exigem maior atenção e cuidados especiais.

O órgão detalha a situação nesses trechos. “A condição do pavimento é boa, mas a movimentação do solo exige cuidados específicos”, complementa a autarquia.

Para este final de semana, 30 de novembro e 1º de dezembro, o DNIT anuncia mudanças nos horários de tráfego devido ao aumento de veículos causado pelo vestibular da UFRGS. O sistema “pare e siga” será estendido até as 20h, garantindo maior fluidez durante o fim de semana, com fiscalização intensificada. A previsão é que, após esse período, o tráfego retorne ao padrão habitual das 5h30min às 19h.

ERS-431

O DAER é o principal responsável pelas rodovias estaduais, salvo as concedidas para pedágios, administradas pela CSG ou pela EGR. Além da ERS-444: enquanto a maior parte do trecho está sob gestão do DAER, o segmento entre a entrada do Vale dos Vinhedos e o limite com Monte Belo do Sul é administrado pela prefeitura de Bento Gonçalves.

A ERS-431, que conecta Bento Gonçalves a Santa Bárbara e São Valentim do Sul, é uma das estradas com a situação mais delicada. Em entrevista ao Jornal Semanário, o DAER afirma que esta é a rodovia mais afetada da região, e que investiu R$25 milhões nas recuperações. Entre os danos, estão desmoronamentos, asfalto comprometido e a destruição da ponte sobre o Rio Taquari, em Santa Bárbara. Atualmente, a ligação entre os municípios é feita por uma balsa com capacidade para 15 veículos, gerando longas filas e dificuldades logísticas.

Embora o governo do estado tenha anunciado uma nova ponte, com um custo superior a R$ 31 milhões, as obras ainda não começaram. A construção deve iniciar em 2025, com prazo de conclusão estimado de 18 meses.

O DAER destaca que mantém uma interlocução positiva com a prefeitura de Bento Gonçalves, essencial para a recuperação de rodovias após os eventos climáticos.

A Ponte de Santa Bárbara, destruída nas enchentes de setembro de 2023, ainda aguarda a reconstrução

Rodovias concedidas

A CSG, com atuação na Serra Gaúcha e no Vale do Caí, é responsável pela gestão integral de importantes trechos, como a ERS-122 (km 0 ao 168,65), ERS-446 (km 0 ao 14,84) e ERS-240 (km 0 ao 33,58); além de segmentos da BR-470 (km 220,50 ao 233,50) e da RSC-453. A concessionária também desenvolve o projeto Caminhos Seguros, em parceria com a Associação Brasileira de Usuários de Ruas, Estradas e Rodovias (ABUR), focado na educação e saúde para motoristas e pedestres, com intervenções realizadas em novembro e outras programadas para dezembro.

Na sexta-feira, 29, a Concessionária realizou algumas manutenções em trechos. Na ERS-122, em Farroupilha, destacam-se ações de limpeza, pintura de sinalização e reparos emergenciais em balizadores e sistemas de drenagem. Já na ERS-446, próximo a Carlos Barbosa, houveram intervenções em taludes e acostamentos. Na BR-470, em Garibaldi, obras no sistema de drenagem continuam, na RSC-453, próximo a Farroupilha, há atenção especial para a manutenção de taludes.

A CSG reforça a necessidade de cautela ao trafegar por esses trechos, especialmente onde há estreitamentos de pista e equipamentos de maquinário pesado em operação.

Quanto a EGR, nas proximidades de Bento Gonçalves, a concessionária administra o trecho do quilômetro 37.9 ao quilômetro 96.1 da RSC-453, entre Estrela e Garibaldi. Recentemente, obras de manutenção asfáltica estão sendo realizadas na RSC-453, em Garibaldi, visando melhorar a infraestrutura que conecta o Vale do Taquari à Serra Gaúcha. Durante a execução, o fluxo de veículos vem sendo intercalado, o que pode gerar pontos de espera em alguns trechos da rodovia. A EGR reforça a necessidade de os motoristas redobrarem a atenção, respeitarem os limites de velocidade e seguirem as sinalizações provisórias, dado o trabalho de equipes e maquinários pesados na pista. O investimento total nas obras é de R$ 13,7 milhões, provenientes da cobrança de pedágios. Na semana de 25 de novembro, as intervenções concentraram-se entre os km 86 e 91 da RSC-453.

Trecho da RS-444 no Vale dos Vinhedos

A diretora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB), Melissa Bertoletti Gauer, detalha como tem sido a relação da prefeitura com os órgãos responsáveis pela administração das rodovias. “O Município sempre manteve o diálogo com o DNIT e o DAER; e foi atendido nas ocasiões que precisamos, principalmente no desastre de maio, quando foi necessário um trabalho conjunto para melhorar as condições de trafegabilidade”, relata.

A principal rodovia sob administração municipal, é um trecho de 12,7 km da RS-444, que vai do desdobramento da BR-470 na entrada do Vale dos Vinhedos até o limite com Monte Belo do Sul. O bloco, era responsabilidade do DAER, porém, foi repassado para a prefeitura em 24 de setembro de 2021, através de um decreto assinado pelo governador Eduardo Leite (PSDB).

Em meio a desafios como o desastre causado pelas chuvas em maio deste ano, a Prefeitura, através da campanha ‘Unidos Por Bento’, se uniu a diversas entidades e à população para reconstruir a infraestrutura danificada na RS-444, no Vale dos Vinhedos. Em 7 de junho, a restauração da via foi oficialmente inaugurada, permitindo a retomada do tráfego e simbolizando a recuperação da região. O prefeito Diogo Segabinazzi Siqueira (PSDB), na época, destacou a importância da colaboração entre governo federal, estadual, municipal, empresas e cidadãos para superar as dificuldades impostas pelas intempéries, reforçando o caráter simbólico e estratégico dessa obra para o município e para a economia local, especialmente no setor turístico.

Trecho recuperado na ERS-444, no Vale dos Vinhedos

A reconstrução contou com a colaboração de várias entidades, integrantes do ‘Unidos por Bento’: CIC-BG, Aearv, Agas, Aprovale, Ascon, Bento Convention, CDL-BG, Fundaparque, Movergs, OAB, SEGH, Sidmóveis, SIMMME, Simplavi, Sindibento, Sindilojas Regional Bento, Tacchini e Uvibra; além de pessoas físicas.

O que pensa a população?

Em uma série de enquetes, realizadas nas redes sociais do Jornal Semanário, motoristas que utilizam as rodovias federais, estaduais e concedidas em Bento Gonçalves e região, opinaram a respeito da situação nas estradas e dos problemas enfrentados, além de apontarem quais trechos eles consideram os mais críticos. Mais da metade dos votantes relatam já terem tido algum problema com seus veículos nessas estradas. Enquanto apenas 15% dos usuários classificam como “boas / excelentes” as condições das vias. A maioria, 55%, classifica a situação como “regular”.