Denise Namura, 60 anos, e Michael Bugdahad, 56 anos, são casados há 29 anos. Ela brasileira, ele alemão. Quis o destino que o casal fosse se conhecer na cidade do amor, Paris. Em solo francês há cerca de 40 anos eles compartilham inúmeros desejos e sentimentos. Passo a passo, a dupla faz da sua sintonia um canal de comunicação entre público, arte, dança e teatro. Esta relação chamou a atenção da Companhia A Trupe Dosquatro, de Bento Gonçalves, que os convidou para ministrar uma oficina e criação de uma coreografia a ser apresentada em um espetáculo em outubro deste ano. A oficina aconteceu na manhã de domingo, 15, na Casa das artes.

Foto: Lorenzo Franchi

Esta é a segunda vez de Denise na capital do vinho. Ela conta que conheceu um dos coordenadores da companhia bento-gonçalvense, Cristhian Bernich, quando ele se apresentava por um grupo de Caxias do Sul. “Dali a gente quis ir mais longe. Voltamos esse ano para dar uma oficina e criar uma coreografia para parte da companhia que será exibida em um espetáculo ainda este ano. Na oficina trabalhamos com informações gerais, para todos os públicos, sem distinção, fizemos uma mistura bem pessoal, uma linguagem simples para a compreensão de todos”, destaca.

A bailarina coreógrafa conta com orgulho que neste ano a companhia francesa, qual o casal faz parte, “À Fleur de Peau”- A Flor da Pele (em português), completa 30 anos de fundação e além de coreografias para espetáculos na França, eles se propõem em compor peças para outros grupos, como para da cidade São Paulo, Belo Horizonte, Portugal e Bélgica. Entre as vertentes artísticas apresentadas, a que se destaca é a dança teatro.

Mistura de artes
Sobre o estilo, Denise define como “uma mistura de artes”. Ela explica que “é uma dança teatralizada. Buscamos sempre uma dramatização no movimento. Não se busca contar histórias. Há uma dramaturgia, que é uma coisa do teatro, trazida para a dança. Contar histórias com seu corpo, passar por situações bem cotidianas, como acordar alguém que está dormindo profundamente. Isso é uma situação que a gente entende e vira dança. Coisas concretas que vão para o movimento e se transformam em expressão corporal”, disse.

A bailarina também ressalta que por trazerem movimentos simples do dia a dia, “há uma percepção instantânea do público na recepção da mensagem. As pessoas se identificam com a mensagem que a gente conta com os nossos corpos. É uma dança, um espetáculo próximo do público. Há uma troca. A gente dá de presente nossa arte e recebe a energia positiva”, comenta.

Sintonia

Foto: Lorenzo Franchi

Quanto ao processo de compor encenações corporais, a coreógrafa destaca o ineditismo em cada peça, pois cada obra é pensada exclusivamente para determinado público. “É importante entender o contexto. Saber, conhecer a história e trazer elementos que sejam da cultura. É um trabalho de criação que dura. Se faz inúmeros testes para ver se há possibilidade. As ideias devem ser conectadas com o tema do espetáculo, com a realidade das pessoas. Por exemplo, ao invés de usar areia, podemos usar a erva mate, algo do gaúcho, mexer com cores, texturas do vinho”, ressalta.

Sobre essa troca de experiências em Bento, o casal afirma que “na dança é importante abrir caminhos. Tocar várias disciplinas, misturar ritmos, estilos. É válido todo o tipo de diversidade. Essa troca é fundamental”. Questionados sobre o que eles esperam transmitir e receber por meio da dança teatro, Denise e Michael afirmam que “para todo artista o reconhecimento do trabalho é importante. No nosso caso, mais importante que o aplauso e sentir a reciprocidade do público, ver que eles entendem e se comunicam com o espetáculo”.