A primeira providência foi escolher um nome adequado ao seu novo perfil. Pensou em Gaia, mas já estava muito batido. Numa breve pesquisa, descobriu “Pachamama”, divindade reverenciada na América Latina, relacionada à terra, à fertilidade, à mãe…  Enfim, a energia máxima do feminino.   

Após o autobatismo, partiu para a ação: salvar o Planeta da ganância e irresponsabilidade humanas, que adoecem os oceanos, deixam a temperatura febril, degradam o solo, envenenam o ar, contaminam as águas subterrâneas, geram lixo não degradável… Ufa!

Começar era preciso! Mas por onde? Pela própria casa! – concluiu sabiamente Pacha. Com essa tomada de decisão, sentiu-se uma verdadeira ativista ambiental, coerente, convicta e confiante. A partir daquele momento, estaria preservando a vida em todas as instâncias.  

Enquanto maquinava estratégias de convencimento, abriu a geladeira para beliscar alguma coisa… Ops! Sinal vermelho… puxador de plástico… que vem do petróleo, que causa dano aos mares, que sufoca a vida marinha, que prejudica o ecossistema… Pegou uma garrafa de água… de plástico, que demora quatrocentos anos para se decompor na natureza. Putz! Numa rápida passada de olhos, vislumbrou a manteiga, o presunto, o queijo, a maionese, o catchup…, tudo acondicionado em plástico descartável. O celular tocou. Ao atender, suas mãos suadas deixaram-no cair. A queda foi amortecida pela capinha – de plástico. Foi ao banheiro. Tomou uma ducha – gatilho de plástico. Abriu a porta do gabinete – de plástico. Escovou os dentes – cabo de plástico. Penteou os cabelos – pente de plástico. Com a cabeça a mil, passou um spray na franja rebelde e imediatamente se lembrou do imenso buraco na camada de ozônio. “Que furada!” Apanhou o creme facial à base de placenta de ovelhas… Tadinhas! Pensou nos seus grandes olhos meigos, nas suas bocas que balbuciam béééééééée… e desistiu.

Abriu o closet. Escolheu um look sexy, que o namorado já ia chegar. Ao olhar-se no espelho, viu a cara sofrida de um boi no couro da saia e uma fila de animais a caminho do matadouro, no nobuck das botas…   Tirou a roupa e vestiu uma camisola de seda. Aí um calafrio percorreu seu corpo com o roçar das lagartas…

“Meu Deus! Estou ficando maluca!” – pensou a mais nova ativista do pedaço, arrancando tudo.   

Então o crush chegou. Ao encontrá-la peladinha da silva, ele ficou todo animado. O clima foi esquentando e acabou na cama. E quando digo que “acabou na cama”, é porque acabou mesmo. Vamos retroceder duas cenas…    

-Amorzinho – sussurra ele – me alcança uma camisinha.

-O quê?! – grita ela, histérica – Plástico descartável nunca mais!!!

Bom, o leitor já pode imaginar o resto, mas a gente vai continuar no próximo sábado.