Virada de século. Depois de uma viagem a Marte mal sucedida, os astronautas aportam num planeta desconhecido, insólito e selvagem, onde mamíferos quadrúpedes e carnívoros da família dos Canídeos dominam o sistema. Horrorizados, os viajantes espaciais inteiram-se dessa realidade bizarra escondidos nos escombros.

Matilhas patrulham as cadeias. Soldados caninos da infantaria caçam humanos, que são aproveitados para o trabalho de puxar o arado, fazer o plantio e a colheita. Só à noite, são liberados do serviço braçal e conduzidos aos seus cárceres, onde recebem uma fatia de polenta e uma cumbuca de água. Tornando-se agressivos, são postos numa corrente bem curta que os impede de sentar ou deitar. Só para aprenderem a ser gente.

Já as crianças são dedetizadas, lavadas, penteadas, com as franjas fortemente atadas em chuca-chucas e perfumadas. Depois viram presente para os filhotes de cães, que se divertem puxando as orelhas, enfiando as unhas nas narinas, fazendo cócegas, obrigando-as a caminhar de quatro, cheirando seus traseiros, dando mordidelas e petelecos… ou “patelecos”.

Os astronautas mal conseguem acreditar no que veem. Que mundo é esse com tal inversão de valores? Será um Planeta, Planetoide ou uma Lua?
-Deve ser Saturno… – sussurra o astronauta russo.
-“Saturno”, camarada? Você está vendo anéis que não sejam os de aço na coleira dos presos? – retruca o americano.
-AU, AU, AU! (Invasores) – late um cão de guarda.
-Auuuuuuuuuuuuu! (Atira neles) – ordena um rottweiler que está no comando da operação Alcateia.

Os astronautas disparam pelo descampado e embrenham-se numa grande fresta do terreno, mas não enganam os de quatro patas, que farejam até pensamento.
Presos pelo cangote, são levados ao líder, o grande Pit (não o Brad, mas o Bull, de um só tom de cinza), cão robusto, hábil e tirano, que… Bom, eu não deveria ser spoiler, mas não consigo me conter. Então vamos ao gran finale, que merece até novo parágrafo:

Os astronautas são arrastados para o laboratório, onde fêmeas humanas mutantes estão ovulando – cães adoram mexer com os genes para criar raças de aparência comercial, não se importando com as doenças que desenvolvem. O importante é faturar.

O americano, já amarrado em engrenagem duvidosa, esbugalha os olhos: “Mas estas são as instalações da NASA! My Good! Estamos em casa…”. Ia contar a descoberta ao camarada russo, quando… Trimmmmmmmmmmmmmmmmm… É seu despertador de cabeceira. Então… Então tudo fora um sonho! Alívio absoluto!

O cara se levanta, corre para o pátio, liberta seu pequeno “dog” do jugo da corrente e grita:
-TORTURA NUNCA MAIS!