O abalo sofrido pelos grupos de imigrantes atingiu todo seu mundo cultural, no qual incluiu a religiosidade. Tratava-se de pessoas provenientes de um meio agrário, com cosmovisão sacral: para eles, o fator religioso era muito mais relevante do que para indivíduos de ambientes urbanos secularizados de nossos tempos.

A organização escolar das colônias deixou muito a desejar, e o fato de falar o dialeto Vêneto não significou apego intencional à cultura italiana: mantinha-se uma língua italiana em um grupo culturalmente segregado, ao qual parecia quase tudo absurdo procurar uma outra forma de comunicação.

Abandonados no meio da floresta, os imigrantes corriam o risco do acaboclamento. Naquele momento, o fator que lhes permitiu a reconstrução do seu mundo cultural, devidamente adaptada, foi a religião. O caminho para a organização do universo cultural foi longo e complexo.

O sistema de colonização colocava os imigrantes em lotes rurais, e não em pequenos povoados, como na Itália. Se, durante a semana, a luta pela existência mal dava tempo para pensar em outras coisas, o mesmo não acontecia nos domingos. O respeito pelo dia sagrado proibia o colono dedicar-se ao trabalho, na floresta, porém, inexistia outra maneira de passar o tempo. O domingo era o pior dia da semana para o imigrante, o dia em que a imaginação atravessava o Oceano para, o vilarejo natal. O domingo era dia da saudade.

Tomado pelo sentimento de solidão e de saudade, o imigrante foi visitar o vizinho, para juntos chorarem um mundo para sempre perdido.

O reencontro, no domingo, acontecia ao natural. Repetiram-se as orações. Vieram outros vizinhos, transmitiram-se notícias, leram-se notícias, leram-se as cartas. Em pouco tempo, institucionalizou-se o domingo. Iniciava-se assim, em torno da religião, a reconstrução do mundo cultural do imigrante.

D. José Borea (Bispo), transcreveu algumas narrativas que ouviu dos primeiros imigrantes: “se não fossem os pinhões, não sei como teríamos sobrevivido, porque somente em 1877 começaram as primeiras colheitas. Quando veio a bendita safra, constatamos que ela era disputada por papagaios, macacos e outros animais e aves que em grande número investiam contra as plantações. Outra praga era dos ratões, em quantidade incrível.