O cérebro é mesmo uma caixinha de surpresas que a gente carrega no topo sem conhecer a potência do seu conteúdo. Pode ser uma bomba já armada pra explodir ou uma caixa de Pandora fechada a sete chaves, de difícil acesso até para os terapeutas. Por isso, diante de uma ação impensada, a pergunta “o que você tem na cabeça?” é simplesmente retórica.

No dia a dia, acionamos o elementar para garantir a sobrevivência. E quase todo o trabalho é feito pelos neurônios popularmente conhecidos como Tico e Teco, tão habituados às coisas primárias que nem tiram a bunda da cadeira para funcionar. Mas quando a situação foge do controle, a dupla se manda, e aparece meia dúzia de valentões dando um carteiraço. No caso de a adrenalina ser muito grande, uma legião de desafetos se comunica através das redes sociais cerebrais, e está feita a porcaria. Com a química da cachola desequilibrada, só muito “faixa preta” para repor as melaninas, dopaminas e serotoninas da vida.

Em se tratando do cérebro masculino, cinquenta tons de cinza permeiam as suas múltiplas funções ativas e inativas. Há uma em particular envolvida com a testosterona, que atrai todo o “povo” para baixo, deixando a parte de cima desguarnecida. Nessa hora, tudo pode acontecer.

Com o passar do tempo, o cérebro vai perdendo alguns parafusos e, como consequência, a memória fica curta. Se cobre os nomes, deixa de fora as fisionomias; se cobre as fisionomias, deixa de fora os nomes. Na pior das hipóteses, dá um branco total e fica tudo a descoberto.

Existe também aquele lance complicado dos hemisférios – o direito que se conecta com os membros da esquerda, e o esquerdo que se conecta com os membros da direita. Dá pra acreditar em tamanha sacanagem ideológica?

Mas não é só isso. Há, no cérebro, matéria desconhecida, zonas insondadas, possibilidades inimagináveis despertadas talvez nos gênios.

Já os eventos misteriosos que ocorrem nas experiências de quase morte, são confundidos com milagres… Se bem que o cérebro já é um milagre pela maravilha de sua concepção. Infelizmente traumatismos cranianos podem acabar com as suas funções… Ou não?

O fato que vou contar, ocorrido há cerca de quatro meses, põe em xeque algumas teorias…

Então, certo cidadão das redondezas sofreu um acidente grave de moto, que o deixou em coma durante duas semanas. Ele foi assistido pela esposa, que deixava escapar preocupações e incertezas diante de sua figura inerte. Ao final da primeira semana, ele repentinamente acordou e dirigiu-se a ela com ênfase: “Vai tomar no c…”. E apagou outra vez, voltando à consciência na semana seguinte.

Hoje, o cara está recuperando os movimentos de um dos lados e anda com certa dificuldade. Precavida, ela guarda alguma distância quando ele usa bengala… Vá que o companheiro se lembre de tudo que ouviu durante o período do coma…