Decididamente esse foi um dia de Finados atípico, lá, em “Barbacena”: um friozinho outonal, uma chuvinha hibernal e uma nostalgia silenciosa. Em todos os outros anos, desde que me lembro, o calor era infernal, o céu, de brigadeiro e, no cemitério, acontecia uma reunião babilônica – além de reverenciar os mortos, os vivos se encontravam para a troca de abraços e novidades. Com tanto papo, tantas flores e velas, a data ganhava status de festa.

Não neste ano. Quando cheguei, às dez e meia da matina, só havia uma criatura circulando entre os túmulos, que sumiu assim que me viu – uma de nós deve ser fantasmagórica….

Mas vamos rebobinar a fita… Trocando em miúdos para os mais jovens, que não conheceram o vídeo cassete: vamos retroceder, voltar precisamente cinco minutos e sete quilômetros, onde os primeiros sinais de que alguma coisa insólita, alguma revelação ou simplesmente algo não usual estava por acontecer. Sigam-me!

Descendo a rampa… Chegando à margem do rio Taquari… Vislumbrando a “chalana”, quase do outro lado, com um veículo a bordo…

Todo mundo acompanhando?

Temos que aguardar o retorno dela…

Epa! Algo se mexendo no meio do rio. My Good! Será um peixe? Será um gavião? Não! É um superatleta. Melhor dizendo: uma superatleta.

Que aflição! Embora ela aparente ser muito melhor que o Cielo, não é páreo para a correnteza, que a está levando rio abaixo…

A barca atracou. A nadadora avança bravamente, recupera a distância perdida e se realinha ao cabo de aço preso no “convés” da “nau”. Agora está saindo da água. Nua em pelo!

Sem mortos nem feridos, podemos suspirar aliviados. Inclusive porque nosso meio de transporte hidroviário já está retornando.

Ó, NÃO! Lá vai a nadadora de novo! Não sei vocês, mas eu vou fechar os olhos…

Ufa! Chegaram! Embarcação e atleta. Lado a lado. Estarão competindo?

O “capitão” sorri e conta que aquela é sua Prince (de Princesa), uma companheira fiel, mas voluntariosa. Ninguém consegue pôr uma coleira nela. E, nesta manhã de Finados, ela está se superando. Dá a impressão que quer mostrar quem é quem na ordem do dia. E, nessa brincadeira, ela acabou fazendo nove travessias, ora na raia da direita, ora na da esquerda. Coisa inédita!

Vocês estão pensando o mesmo que eu? Pois é! Princesa é talentosa, tem potência aeróbica, massa muscular ideal, muita disposição, e seu nado cachorrinho é… de cachorrinho mesmo. Se constasse essa categoria nas Olimpíadas de 2016, o título viria a Santa Teresa. Com certeza!