“Estrela da Manhã” é um belo poema do bardo Manuel Bandeira que ilustra bem esse período do ano: Nas ondas da praia / Nas ondas do mar / Quero ser feliz / Quero me afogar. Nas ondas da praia / Quem vem me beijar? / Quero a estrela-d’alva / Rainha do mar. Quero ser feliz / Nas ondas do mar / Quero esquecer tudo / Quero descansar.

A verdade é que centenas de milhares de gaúchos já curtiram, estão aproveitando ou se preparando para pousar nas areias do nosso litoral, formado por uma única praia com mais de 200 quilômetros de extensão que começa na fronteira com o Uruguai e vai até o Cabo de Santa Marta em Santa Catarina.

Parte deles gasta parcela das férias cortando a grama, matando formiga, expulsando barata, arrumando a cerca e consertando portas e janelas das suas casas de veraneio.

Alguns perdem tempo e paciência procurando casa ou apartamento para alugar. Os mais azarados acabam bem longe da praia, lá atrás nas última fileiras de casas, com vista fantástica para o capim que antecede as dunas.

A maioria briga, não para garantir um lugar ao sol, mas para assegurar um lugar onde plantar o guarda-sol para, sob o qual, instalar a grande família, com pais, filhos, primos e primas, tios, avôs e avós e, eventualmente, a geladeira de isopor, prancha, cadeiras, esteiras, toalhas, baldes e bolsas.

Outros acomodam seus traseiros pronunciados nas cadeiras de praia com suas dores de estimação, de onde assistem “baleias” encalhadas na areia, lutando com todas as forças para se libertar, e crianças correndo com baldes de água, atropelando os distraídos.

Uns veranistas queimam algumas calorias besuntando o corpo com protetor solar, dando pulinhos toda vez que chega uma nova onda ou correndo atrás do guarda-sol sendo levado pelo “nordestão”. Muitas vezes, a praia vira test-drive de guarda-sóis. Menos mal que o vento quase sempre vem de tardezinha, hora em que parte dos veranistas já se encontra tomando um mate ou “correndo lojinha”.

Não faltam famílias unidas, numa espécie de mutirão, abrindo enormes buracos para enterrar filhos e sobrinhos até o pescoço na areia suja da praia. Os mais criativos dedicam-se a erguer castelos de areia com uma paciência de Jó, apenas para dar o prazer a um filho da mãe vir correndo pela areia e derrubá-lo.

Alguns veranistas precisam dividir um mísero banheiro para seis ou mais pessoas. Quando todos tomaram banho, o sabonete terá simplesmente se transformado em pedra-sabão, com dez camadas de areia.

Muitos banhistas fatalmente perdem algo no mar. Óculos de sol, relógio, joia ou bijuteria. A parte de cima do biquini num topless involuntário e a sunga cairá deixando o infeliz “a ver navios”.

Apesar das advertências de sempre, muitos veranistas sofrem algum tipo de queimadura, do nível mais baixo ao camarão. Corpo manchado como os das vacas holandesas: pele branca com manchas vermelhas que é onde o filtro solar não foi passado direito.

O bom é que quase todos os veranistas se divertem além da conta, mesmo com o mar cor de chocolate, frio, revolto e pouco amigável. A garotada se diverte chutando as canelas uns dos outros no campinho improvisado na areia. As meninas se divertem exibindo um bronzeado impecável. As mães se divertem correndo atrás dos filhos pequenos e estes se divertem fugindo delas. Os nonos se divertem no jogo de bocha e as nonas se divertem tomando caldo nas ondas. Os casais se divertem jogando frescobol e acertando a bolinha na cabeça dos incautos. Moçoilas se divertem tostando ao sol, virando de bruços e de costas, como panquecas na frigideira.

E para finalizar, muitos veranistas deixam marcas nada exemplares nas areias da praia: montanhas de latinhas de refrigerante e cerveja, palitos e papel de picolé, casca de coco, restos de frango e farofa e sabugos de milho verde.