Estranha é a nossa relação. Fui abduzida temporariamente por ela e devolvida pelo bom senso ao meu habitat: a crônica.  Esta praia é mais confortável. É só abrir o guarda-sol e estender a vista. O resto fica por conta da brisa e das marés. No mundo da poesia, não! É preciso ir além, nadar até o fundão, esperar a onda de Nazaré (marolinha não tem graça), saltar sobre a prancha, encarar a parede de água, invadir o tubo e dominar a natureza.  Essas manobras provocam muita adrenalina pra meu gosto e exigem audácia extrema e treino árduo.

Por isso acabei me afastando dessa linguagem poética, mas hoje tropecei num poema que estava “no meio do caminho”. Implosivo, vulcânico, arrebatador. De arrepiar. E sabem quem o compôs? A musa do mestre Quintana. Que me perdoe o Mário (isso é hilário), mas a Lombardi me encantou com “Gaia – você sabe…”.  Transcrevo uma estrofe:

“Mas você sabe como eu sou de subsolos/ de subterfúgios, de subversos subliminares/ como eu sou de submundos subterrâneos/ de sub-reptícias folias/ meio de circo, meio de farsa/ ervas, panfletos, fluídos, presságios quebrantos, jeitos, gírias, reviras/ de sensações e cismas, filosofias/ de como eu sou de estradas/, andanças, pressentimentos atmosférica e vadia/ gato da noite, de crises, guitarras/ ouros e danças e circunstâncias de vinho azedo e companhia.”

E aí ideias malucas começaram a desfilar na minha cachola… E algumas letras de músicas intensas e líricas, passaram a mexer com meu sistema límbico (as “lives” sobre a pandemia me ensinaram alguma coisa), como estes versos:

“Hum!/ Tantas vezes eu quis/ Ficar solto/ Como se fosse uma lua/

a brincar no teu rosto” (Muito Estranho, Nando Reis).

E teria ido além, voado pra outras dimensões se não tivesse sido puxada para baixo, feito pipa, por um fenômeno tribal que se tornou global, uma forma bizarra de som que escapou de um Smartphone carregado por mãos adolescentes:

“Mano eu tô chavoso/ Eu jogo a toca da medusa/ Medalhão da Oakley/ Sempre jacaré na blusa/ De umbrela roxa Romeo dois desparafusa/ De copão na mão menó passou de Hayabusa/ Mano não atire com a Nerf/ Ela não te dá porque você é nerd/ Dropo com flow tipo drope no surf/ Só com esse hit comprei novo raf”.

Ai, meu Deus! “O que será o amanhã / responda quem puder? O que irá acontecer…?”