Parece muito prepotente – e talvez seja mesmo – mas já não tenho mais paciência para muitas coisas. Assim como palestras, vídeos, livros que dizem o que você tem que fazer para ‘alcançar o Nirvana’, pelo simples fato de não acreditar mais em motivação externa. Não como vendem por aí, aos montes.
Você não vai ser mais rico, mais bonito ou mais bem sucedido se ler todos os livros motivacionais que existem. Desculpa! Aí está uma coisa que nem um ídolo, nem uma biblioteca, nem uma penca de cursos on-line podem fazer. A SUA PARTE. Bem clichezinho mas, mais verdadeiro impossível. Se você não quiser, não vai mudar, não vai fazer, só vai ler e se sentir um $#@& por não estar “lá” também. Afinal, parece tão fácil!
Em uma época um tanto sombria, comecei a adquirir e ler livros motivacionais, que ensinariam as pessoas a serem bem sucedidas, a criarem seus próprios negócios, a fazer tudo sem medo, a dar a volta por cima. Era isso que precisava, palavras mágicas que me fizessem amar a vida novamente.
O primeiro livro deveria ter sido bem inspirador. No auge da minha depressão, comecei com uma história verídica que foi sucesso de vendas, virou série e mostrava o sucesso como um caminho super possível e fácil. Deveria ter me sentido melhor.
A cada frase que terminava, queria jogar o livro na parede e me sentia pior. Sempre fui honrosa com meus compromissos, tentei cumprir com meus horários e com minhas obrigações, com meu papel em cada empresa que trabalhei e cada cliente que atendi. Esse livro me mostrou que esses meus valores não serviriam para nada. Poderia ser a pessoa mais escrota do mundo, mas se vivesse nos anos 80 e tivesse uma boa ideia fumando um, poderia ser milionária aos 23. Motivador, não?
Li outros livros, participei de palestras e tudo o mais. As frases são lindas mesmo, a empolgação dos palestrantes é contagiosa, meu coração quer sair pela boca, quero correr e fazer tudo o que eu não fiz até hoje. Saio do teatro lotado com brilho nos olhos, respiração ofegante e caminhar ansioso. As pessoas começam a se dispersar, indo para suas casas.
Está frio, acendo um cigarro antes de entrar no carro.

Dizem que organização é tudo. Que preciso de um propósito para ontem (quem ainda não tem, não é nem gente) e encaixar um monte de regras nos dedos das mãos e decorar pela primeira letra. Se não passar noites acordadas trabalhando não serei ninguém. Se não postar no Instagram também não. Se não criar um produto on-line também não. Se não acordar às 5h da manhã também não. Se não fizer exercício também não.
Método Him Hof para equilibrar mente e corpo. Cura qualquer coisa, la garantia soy yo. Caminhar em brasas me fará vender mais, ter sucesso e conquistar a pessoa amada. O poder da mente. Aí fiquei confusa, ouvi dizer que se você não é visto não é lembrado. Mas se for muito visto pode ser ignorado. Finalmente concordei com algo.
Esse é o momento em que preciso finalizar com uma boa desculpa para estar tecnicamente desprezando, mas sabendo que vidas de sucesso devem continuar sendo expostas sim, porque são lindas. A primeira que surgiu foi a que ainda não tenho uma, devo aceitar que sou um fracasso completo, mas esse recalque é segredo. “Vamos lá você consegue levanta essa bunda da cadeira, você é um homem ou é um rato?” Nem homem, nem rato, nem para ler e ficar quieta eu sirvo. Muito bem, segunda opção: porque raios cada um tem uma receita de sucesso se nem todo o mundo tem o mesmo forno nem os mesmos ingredientes? Achei que teria mais opções, mas acabei de encontrar uma luz. Não! Não achei ela em nenhum livro. É que lembrei que estou com um projeto há um ano parado, e deveria voltar, porque se eu não fizer ele bem do meu jeitinho, ninguém mais vai fazer.