Para os leitores que, fielmente, vêm acompanhando os meus textos sobre perdas e luto, e também aos que dedicaram, no dia de hoje, um pouquinho do seu tempo para ler sobre o assunto, gostaria de, humildemente, compartilhar uma perspectiva diferenciada sobre uma das áreas de atuação da psicologia, a qual tenho me debruçado todos os dias e pela qual tenho descoberto experiências encantadoras, capazes de transcender toda a dor e o desamparo que a morte provoca.

Trabalhar com a educação para a morte e morrer, sem dúvida, faz com que se vislumbre a preciosidade da vida, justamente pela sua singularidade. Não podemos negar que a vida é frágil e, da morte, temos consciência. Contudo, parece que a certeza ainda maior é que apenas há dor quando também existe amor. Colin M. Parkes, grande estudioso na área do Luto, refere que a dor do enlutamento emerge do custo do compromisso que é amar. E foi na vivência diária de trabalho que me deparei com a experiência do amor em suas mais diversas formas de expressão, com diferentes pessoas que acompanho na clínica, nos grupos de apoio, e que também passaram por mim em algum momento desta trajetória.

A experiência do luto tem disso: lança a todos a uma dimensão humanamente desconhecida e, por esta mesma razão, causa estranheza e confusão. Faz pensar que se está tateando às cegas, no escuro. E daí vem o medo, a falta de sentido, o vazio que só quem passa por uma perda sabe o que é sentir tamanho desamparo. A morte é a maior castração. Porém, embora toda a angústia provocada por estas sensações pareça nunca se findar, é muito importante manter acesa na memória a informação de que o luto é um processo. Isso significa que existem diferentes momentos pelos quais a pessoa enlutada enfrentará e se descobrirá. Pode-se dizer que o enlutamento é uma oportunidade de devolução de si mesmo para si, quando enfrentado.

Em meio à dor, vai-se compreendendo que o que fica para sempre é o amor, que eterniza os laços da existência, que nem mesmo a morte é capaz de romper. Essa é a parte mais incrível desta experiência, se assim se pode dizer, porque o amor que faz doer no processo de luto é o mesmo que permite o recomeçar da vida ao longo de um tempo individual, permitindo que a pessoa enlutada busque recursos, ferramentas na sua “caixa da vida”, a fim de movimentar-se rumo a um novo olhar para si mesmo e para o mundo. A pessoa vai sendo devolvida para ela mesma, de uma forma diferente da anterior, e repleta de capacidades para o enfrentamento e superação.

O sofrimento, no luto, é também uma espécie de “convite” para a evolução. E é por meio da aceitação deste desafio, que a pessoa enlutada aprende a amar em separado, que não significa mais amor ou menos amor, mas oportuniza caminhos para seguir em frente, conectada com todos aqueles que partiram numa espécie de ligação que transcende toda dor e que autoriza o reinvestimento no viver. Inevitavelmente, todos saem diferentes de uma experiência de luto. Mas são as mortes que permitem as ressurreições, que abrem a possibilidade de recriar, transformar, renascer, recomeçar.

Franciele Sassi
Psicóloga Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto e Perdas