Quando morre um papa, o mundo silencia. Não apenas os sinos dobram; mas o tempo e a história também.
Mesmo os que não professam fé alguma, percebem: partiu um líder do espírito,
um eco de Deus que caminhava entre nós.
Mas Jorge — que um dia escolheu chamar-se Francisco — não foi qualquer pontífice.
Foi o primeiro a vir do sul do mapa, do sul da alma. Carregava o sotaque dos pobres, o abraço dos esquecidos e o olhar firme de quem ousa quebrar muros com palavras mansas.
Seu nome não foi por acaso.
Francisco, como o santo de Assis, falou com os animais, com as árvores, com os homens. Renunciou aos tronos de ouro para sentar-se no chão da praça, entre mãos calejadas e lágrimas anônimas.
Ele não temeu o novo. Disse que Deus não exclui o amor que ousa ser diferente,
estendeu a mão aos palestinos, denunciou as feridas escondidas da própria Igreja.
E quando o silêncio da pandemia cobriu a Terra, ele caminhou só, sob chuva,
pela imensidão vazia da Praça São Pedro e ali, abençoou o mundo com os olhos molhados de fé.
Foi o pastor que não se escondeu do lobo.
Combateu o abuso, rompeu o silêncio,
deu às mulheres e aos negros lugares que sempre lhes foram negados.
E como verdadeiro guardião da criação,
gritou pela Terra em sua encíclica Laudato Si, pedindo que cuidássemos da Casa Comum como quem cuida do coração.
Francisco não morreu — ele se despediu com poesia. Mesmo curvado pela dor, abençoou o povo uma última vez, frágil e firme, como só os grandes são.
Deixou-se ver, cansado e sorrindo, no papamóvel, fazendo da despedida um sermão sem palavras, onde o divino e o humano se abraçam.
Foi argentino e, como tal, amou o futebol,
mas mais do que isso, foi universal:
pertenceu a todos. Preferiu o toque ao discurso, o gesto ao dogma, a simplicidade ao poder.
Francisco foi o vento que soprou onde não se esperava, foi Páscoa em carne viva:
ressuscitou a fé dos que duvidavam e descansou no tempo certo — logo após a Ressurreição do Senhor. Para nos lembrar que os bons, mesmo quando partem,
ficam eternos em nós.