Conhecida como uma das profissões mais antigas do mundo, os sapateiros sempre fizeram parte da história da humanidade. Originalmente, os sapatos eram feitos à mão e após longos períodos de estudos, confecções para diferentes climas, os calçados chegaram ao Brasil, em 1808. Com a vinda da Família Real ao país, os sapatos passaram a fazer parte da rotina dos moradores e a partir disso, o gosto e a atração por eles aumentou consideravelmente. O que antes era somente um artigo de proteção, atualmente se tornou acessório elegante e que compõe o look do dia a dia. Em Bento Gonçalves, os calçados de muitos habitantes passam por mãos ágeis e de muita história. No bairro São Francisco, encontramos irmãs que seguem os passos do pai na profissão.

Marilene, 61 anos, e Elaine Dal Molin, 57, aprenderam com o pai, Heli, 85, a profissão que muito se orgulham. Há mais de 30 anos no ramo, a atividade, que geralmente é realizada por homens, tem quebrado barreiras e se tornado também profissão para mulher. É a terceira geração da família que faz do conserto de calçados o sustento para a casa.

Seu Dal Molin, já com a idade avançada, lembra como foram os primeiros momentos vividos na profissão. “Comecei quando era criança. Fazia chinelos, tamancos. Aprendi com meu pai, que foi seleiro e sempre trabalhei nisso”, comenta.

Ele ensinou as duas filhas a profissão que tanto ama e elas seguiram no ramo. “Ensinei tudo e elas aprenderam a trabalhar. Compramos máquinas e equipamentos e agora elas seguem os mesmos passos meus e de meu pai”, finaliza.

A filha Marilene comenta como surgiu o interesse pela sapataria. “Morávamos em Muçum, onde meu pai fazia selas para os cavalos. Após algum tempo, o trabalho parou e ele começou a produzir chinelos, sandálias e botas, todas sob medida. Com 12 anos comecei, com a ajuda de minha irmã, a fazer os tamancos de madeira. Após isso, nos mudamos para São Valentim do Sul e continuamos com a sapataria. No ano de 1984 viemos para Bento Gonçalves e nos instalamos na Castelo Branco onde ficamos por 30 anos. Há três anos nos mudamos para o bairro São Francisco, onde estamos até hoje”, comenta.
No local, são consertados diversos tipos de calçados, bolsas e malas. “Refizemos a pintura, arrumamos solados de botas, sapatilhas, trocamos de cor, claro, tudo de acordo com o gosto do cliente”, frisa.

Conforme Marilene, o trabalho, que sempre foi intenso, aumentou ainda mais com a crise. “Percebi que teve uma procura maior pelo conserto de calçados, pois antigamente também teve uma crise e ocorreu este mesmo processo. Muitas vezes chegam várias sacolas, com 10 ou 20 pares para conserto. Sempre tivemos trabalho, nunca faltou, mas realmente agora aumentou”, destaca.

Ela afirma que muitas pessoas que não procuravam o conserto de calçados, passaram a procurar. “Acho que o dinheiro encurtou. Até mesmo um cliente, há algum tempo, me disse que doava pares, ao invés de reformar, mas agora optou pelo conserto para minimizar os gastos. A única coisa que eu reclamo é que algumas pessoas esquecem de vir pegar os consertos e acaba acumulando aqui para nós”, pontua.

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