Faz tempo que queria falar sobre isso, mas não tinha ‘recheio’. Depois de muito estudo e pesquisa (TikTok e terapia), eis que venho vos falar.
A primeira vez que li esse “ditado”: a maior decepção é aquela que vem de quem nunca esperamos, eu e meus ‘divertidamente’ simplesmente bugamos, porque pra mim isso é tão óbvio quanto a incerteza do destino. É que tá tão comum usar um monte de frases de efeito que o iludido nem se presta a tentar entender o sentido dela.
A decepção é um dos sentimentos mais constantes. Levantei da cama e me decepcionei comigo mesma por ter me atrasado, com o tempo que estava um mormaço, com minha incapacidade de agradecer por ter acordado mais um dia. A gente se decepciona porque cria uma ilusão de que não existe fatores externos, só o que gente espera receber e ponto.
Quanto mais idealizamos o mundo e os outros, mais nos decepcionamos. Depois de toda aquela expectativa sobre o novo trabalho, percebemos que também tem injustiças, tretas, invejosos e procrastinadores.
Ando pensando no sentimento de confiança que depositamos nos outros e nas situações. Cheguei muito animada para uma comemoração, cheia de presentes para os entes queridos, louca para ouvir uma música brega e beber uma cerveja. Mas o que a gente encontra é um ambiente hostil, silencioso, cheio de sarcasmo, deboche e algumas tristezas. Esperei demais por esse momento? Sim. São momentos em que não identifico meu próprio lar, onde eu deveria estar? Eu deveria estar? Porque não me sinto em casa em lugar nenhum?
Marquei psicanálise.

Enfim a confiança. Se for parar para analisar, ninguém está livre nem de machucar nem de ser machucado. Quando entendo, me sobe um frio pela espinha e uma onda no peito, me entristece, perco um pouco a fé.
Decepção é algo que vem de quem você menos espera sim, se não seria apenas uma revelação. Então, como não estamos livres de sermos decepcionados, podemos mudar o foco para nós mesmos, pois só temos controle sobre isso – e olhe lá (aquém desse controle está nosso inconsciente e nosso sistema simpático, que se você nunca sofreu gatilho de um trauma ou esteve em situação de extremo risco, não sabe como pode reagir).

Lúcio Aneu Séneca, um filósofo do Império Romano seguiu sua vida com estoicismo, doutrina fundada por Zeno, um rico mercador no século 3 a.C. A sugestão de Sêneca é atuar sobre a origem e os caminhos que levam ao desapontamento: as expectativas. E recomenda o básico do estoicismo — “não tenha expectativas” ou o “prepare-se para o pior”. Sêneca defendia que suportamos melhor as frustrações para as quais nos preparamos e compreendemos; e somos duramente atingidos por aquelas que menos esperamos e não conseguimos entender.
O estoicismo não é uma prática fácil, e diria até que, pouco saudável. O mundo respira, vive e sobrevive de sonhos e expectativas. Mas nem por isso é descartável, é valiosíssimo para reflexão. Porque nos decepcionamos? Imaginamos algo ou nos foi prometido? Aquilo te decepcionou ou foi você que esperou demais?
Vejo decepção como algo que você pediu para não fazerem, foram lá e fizeram. Uma promessa quebrada. E aí entram os graus de gravidade e lista de motivos levianos, e cada um deles liberam um tipo de tortura mental e física diferente. É um show de horrores.
O que poderíamos definir como “não tenha expectativas”? Não abra mão delas, mas imagino que o ideal é mantê-las baixas sobre coisas que não podemos controlar. Ser realista e pensar no que pode dar errado não é deixar de sonhar ou de acreditar, é apenas saber qual é a profundidade do local em que está pisando.