Reportagem do Jornal Semanário recebeu diversos relatos de pais que lutam para conseguir uma vaga na escola mais perto de onde residem, porém, sem sucesso

Quando uma criança atinge a idade escolar, muitos pais se perguntam onde o filho vai estudar. Geralmente, a preferência é pelo local mais perto de casa, justamente para facilitar o deslocamento. Entretanto, em Bento Gonçalves, incontáveis mães estão com dificuldade para conseguir matricula em escolas próximas de onde residem, devido à falta de vagas na rede municipal.

A atendente de turismo, Rafaela Fagundes, 28 anos, mora a poucos metros da Escola Municipal Alfredo Aveline, localizada no bairro Borgo. Por isso, desde o ano passado, está na luta para conseguir matricular a filha Ellena, de 6 anos, nesse educandário. Porém, ainda não obteve sucesso nas tentativas.

Tanto em 2021 quanto em 2022, Rafaela seguiu todo protocolo necessário, por isso, conseguiu fazer com que a filha ficasse em primeiro lugar na fila de espera, mas nem assim conseguiu vaga. “Fiz a inscrição dela no mesmo dia e horário da abertura, sendo que ela ficou como a primeira de uma lista de espera existente. Porém, fui informada de que não teria vaga disponível, pois na série dela, as turmas estariam lotadas, que dificilmente abriria uma, apenas se algum aluno desistisse ou mudasse de cidade”, relata.

Desde então, Ellena estuda na Escola Fenavinho. Embora o deslocamento seja bancado pelo poder público, a mãe gostaria que a filha estudasse no mesmo bairro onde a família mora. “A prefeitura paga um ônibus que leva ela até lá. Porém, a escola é somente de ensino fundamental. Moramos ao lado da Alfredo Aveline, onde ela só sairia após o ensino médio concluído. Hoje minha filha tem que atravessar a cidade para poder estudar sendo que tem uma escola que só precisaria atravessar a rua”, queixa-se.

Rafaela não é a única mãe que passa por essa situação. A reportagem do Jornal Semanário recebeu diversos relatos semelhantes, como o da promotora de vendas, Maiara Finatto, 33 anos. “Moro no bairro Universitário, praticamente ao lado da Escola Municipal Ernesto Dorneles. Há três tento vaga escolar para meu filho, mas sem sucesso. A Secretaria nos encaminhou para a Escola Cenecista, no bairro São Roque”, conta.

A auxiliar administrativo, Andreia Santana, 41 anos, se viu dentro do mesmo problema. “Fiz a inscrição do meu filho, Rafael, para a escola mais próxima, mas ele foi designado para a mais longe. Nos mudamos para o bairro Licorsul, então a preferência seria pelo Instituto Estadual de Educação Cecília Meireles, mas foi designado para o Colégio Estadual Dona Isabel (bairro Universitário)”, afirma.

A operadora de processo e frentista, Ledenir Elisa Zanon Bernardo, 39 anos, conta que ano passado, ao realizar a inscrição da matricula de forma online, a opção da escola mais perto de casa (bairro Humaitá), a Alfredo Aveline, nem apareceu entre as opções. Tentei ligar várias vezes para saber de vaga para minha filha e só dizem que tenho que esperar. Enquanto isso, tenho que trabalhar em dois empregos para pagar babá e transporte de ida e volta para minha filha, porque consegui vaga só no José Farina (bairro Licorsul)”, relata.

A pintora Angela de Ávila Soares, 31 anos, mora no bairro Vila Nova II. Em frente à residência tem uma creche, local que seria ideal para o filho, Kelvin, de 2 anos, frequentar. Porém, por não ter vaga no local, foi designado para a Escola Infantil Dindolelê, localizada no bairro Licorsul, que nessa semana está atendendo em horário de adaptação, das 13h30 às 15h30. Sem transporte e com a mãe trabalhando nesse horário, quem fica encarregada por levar e buscar o pequeno, a pé, de um bairro ao outro, é a irmã, de 15 anos. “Trajeto longo, sendo que eu mesma poderia atravessar a rua e deixar ele ali”, afirma.

A mãe informa que esteve na Secretaria Municipal de Educação, para tentar explicar a dificuldade, mas não obteve sinal positivo. “Dizem que não tem vaga, que a escola não tem capacidade de colocar a criança, porque não tem lugar, mas claro que não tem, é só ir lá na frente para ver cada pessoa chegando com um carro mais bonito do que o outro, que com o valor do IPVA poderia pagar uma escolinha particular. Não tem vaga porque muitos que tem dinheiro e condições, deixam aqui na creche da Vila Nova, tomando lugar de quem precisa”, lamenta.

Outra queixa de Angela é quanto ao retorno que recebe quando entra em contato. “Explico a situação e eles só falam que não tem vaga, não dizem nem que vão ver o que podem fazer. Essa é a minha indignação”, desabafa.

O que diz a prefeitura

De acordo com a secretária de Educação, Adriane Zorzi, as vagas escolares são disponibilizadas a partir de um zoneamento preestabelecido entre escola da rede municipal e estadual. “Cada uma atende determinas ruas. Sabemos que algumas escolas têm maior demanda, mas também sabemos que muitas famílias não aceitam a escola pela qual foram designadas”, afirma.

Questionada sobre porquê muitos pais não conseguem matricular os filhos perto de onde residem, Adriane explica que com a transferência de toda a educação infantil para a rede municipal, algumas escolas ficaram sem espaços para atendimento de alunos do ensino fundamental. “Mesmo com turmas em cessão de uso, a demanda tem sido crescente a cada ano”, esclarece.

Entretanto, ela garante que todos os alunos da rede municipal que não conseguem vaga em escola do seu zoneamento, recebem transporte. “Não tem direito ao transporte os alunos da rede estadual da zona urbana ou famílias da rede municipal, que optaram por outras escolas que não do seu zoneamento, desta forma assumindo o custo do deslocamento”, pontua.

Por fim, em relação ao planejamento para atendimento dos alunos mais próximos das residências, a secretaria conta quais ações estão em andamento, para melhorar o atual problema. “Estamos ampliando escolas, construindo mais três (Fátima, Zatt e Caminhos do Aprender), municipalizamos a Escola São Valentim, firmamos uma parceria com a Universidade de Caxias do Sul para atendimento de alunos de anos finais e na escola onde eles estavam serão atendidos estudantes dos anos iniciais, ampliamos para até 600 vagas de convênio com escolas da rede privada”, conclui.