O tímido crescimento registrado pela economia de Bento Gonçalves em 2012, revelado em números pela 42ª edição da revista Panorama Socioeconômico, lançada esta semana pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CICBG), derruba a ilusão, alimentada há anos, de que a cidade seria uma ilha de prosperidade em meio à crise nacional e internacional. Mesmo que não apresente motivos para grande preocupação, os números, que apontam para um crescimento de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do município no ano passado, em relação aos resultados de 2011, permitem reflexões importantes.

O desempenho praticamente acompanhou o fraco resultado da economia do Brasil, que cresceu 0,9% no ano passado, mas superou o comportamento do Rio Grande do Sul, que no mesmo período registrou uma retração de 1,8%, em grande parte como consequência da forte estiagem que provocou um desaquecimento do setor agrário. Mas é na comparação consigo mesmo que os números de Bento chamam a atenção. O resultado é significamente inferior aos 4,7% de crescimento da riqueza registrados em 2011 na relação com 2010, que já foi um ano muito positivo, isso que os primeiros anos da década foram marcados pelas consequências da crise internacional deflagrada em 2008 e que até hoje influencia a atividade produtiva no mundo todo.

No início do decênio, Bento conviveu com uma economia em franco crescimento, impulsionada pelos resultados da indústria e o pleno emprego. Pois, dois anos depois do início da década, é exatamente o resultado do setor industrial que puxa para baixo o desempenho da economia local. Enquanto o setor de serviços segue liderando o crescimento no município, com um acréscimo de 3,5% do PIB setorial, seguido pelo comércio, que cresceu 2,4%, pela primeira vez no milênio a indústria de Bento registrou queda na geração de riquezas. Ainda que moderada, o decréscimo de 0,3% do PIB acende o sinal de alerta e provoca questionamentos acerca dos motivos que levaram ao resultado e sobre o que reserva o futuro da principal atividade econômica da cidade.

Se parece estar provado que o crescimento do PIB influenciado pelo incentivo à demanda interna não é sustentado, o baixo crescimento do PIB deve-se em grande parte devido a essa política adotada pelo governo brasileiro, com a redução do IPI para bens duráveis e redução dos preços em outras áreas, como energia. Porém, a estagnação dos preços internacionais somada às condições do mercado de trabalho e ao baixo crescimento da produtividade, o que gera uma queda nas importações a preços baixos, é o que leva a esse pífio crescimento do PIB. O tema principal para o crescimento econômico de longo prazo é a infraestrutura, exatamente um dos fatores que ajudam a derrubar o PIB industrial, aliado a questões como a alta carga tributária e custos de produção.

Investir em infraestrutura gera custos no curto prazo, é certo, mas é ele que pode garantir um crescimento sustentado do PIB no longo prazo. Os impactos sobre o crescimento se dariam no aumento da produtividade e no mercado de trabalho. Enquanto o país não aprender esta lição básica, os reflexos locais terão continuidade. Além disso, é preciso estabelecer um ajuste fiscal, garantir a contenção de gastos do governo e realocação de recursos para os investimentos. Aqui, o que está em jogo é a continuidade de um sistema que emperra o crescimento impondo barreiras como a inexistência de modais de transporte de cargas mais eficientes, por exemplo, como a péssima condição das estradas, como as escorchantes tributações sobre a produção ou a ausência de políticas de longo prazo, que esboroam a competitividade das indústrias locais em relação tanto ao mercado nacional quanto no comércio mundial. O resultado é a estagnação.