A diminuição de jovens nas propriedades rurais, principalmente as de âmbito familiar, é preocupante, visto que, anualmente, casas acabam sendo abandonadas por aqueles que buscam, em grandes cidades, oportunidades e independência financeira. Se os mais novos não dão continuidade ao que seus pais iniciaram, a agricultura familiar perde forças. Dados da Emater/RS-Ascar mostram que esse número cresce anualmente. Maior incentivo familiar, apoio de sindicatos, cooperativas e Poder Público seriam ideais para a permanência nas propriedades. A história de Margo Perin, 30, mostra que é possível tocar adiante o trabalho herdado e ter renda, muitas vezes superior a grandes cargos existentes na zona urbana.

A produtora rural já possui algumas definições do que busca para a sua vida pessoal e profissional. Uma delas é permanecer no campo. Moradora da Linha Alcântara, interior de Monte Belo do Sul, a jovem, que reside com os pais, acredita nas oportunidades e na capacidade de emprego e renda que o meio rural pode oferecer. “Eu sempre gostei de trabalhar com a terra. Completei o ensino médio, mas nunca tive intenções de seguir alguma faculdade. Não sei se está no sangue, mas eu não me vejo longe da minha propriedade rural. Tudo isso vem de geração: primeiro, com meu avô, Germano, depois meu pai Ildo e agora comigo”, conta.

Sua família sempre dedicou a vida na produção de uva. Para continuar acreditando na agricultura e fortalecer a sua permanência no campo, Margo conta que aos 16 anos precisou tomar frente das decisões, pois seu pai começou a apresentar problemas na coluna. “Com a saúde afetada, o que dificultava muito o controle das atividades, há mais ou menos 15 anos estou gerindo todo o trabalho. Ele sempre ajuda, mas depois que surgiu a doença, acabou se resguardando, porém, nunca deixou de trabalhar e me apoia em tudo”, afirma a jovem.

Nascida e criada no campo, Margo precisou dividir seu tempo entre os estudos e o gerenciamento da propriedade da família. Ela afirma que não há uma escala de atividades diárias pré-definidas e que consegue organizar a vida familiar para desfrutar dos períodos de folga. “Na roça não temos como gerir horário. Se o tempo está bom, a gente vai e trabalha. Na lavoura tudo depende do clima”, pontua. “Precisamos arejar um pouco a cabeça. Então, quando eu quero sair, passear, consigo fazer tranquilamente. Nunca os três saem da propriedade juntos, até porque temos animais para cuidar. Acabamos nos revezando: às vezes eu saio, outras vezes meus pais vão passear e assim a gente vai tocando”, conta.

Atualmente, a família conta com 10 hectares de parreiras, oito de vinífera e dois do tipo comum, numa produção de aproximadamente 170 toneladas. “Sou responsável por toda a organização do plantio, tratamento, safra, na reforma ou na construção de um novo parreiral. Claro, meu pai sempre está junto, afinal, possui uma visão mais ampla, devido à experiência”, revela.

A agricultora acredita que se não houver estrutura sólida e apoio, o jovem não segue com a vida na propriedade rural. “É puxado, é um serviço trabalhoso. Para que eu permanecesse por aqui, tive todo o suporte da minha família. Às vezes, até por falta de incentivo dentro de casa ou por pouca renda financeira, as pessoas acabam sonhando que na cidade grande tudo é mais fácil. A gente trabalha muito para manter as coisas que temos, mas vale a pena”, garante.

Margo acredita que muitos jovens teriam o desejo em ficar no seio familiar e manter o trabalho em suas terras. Porém, faltam iniciativas que possibilitem e tornem mais atrativo o empreendedorismo no campo. “Não trocaria por nada a vida que levo aqui. Se o agricultor vai bem, todo mundo acaba ganhando. Pra quem mora na cidade, se a safra é boa, aquele que mora nos grandes centros também sai beneficiado. Se existissem investimentos e incentivos maiores na agricultura, tanto por produtores, quanto do governo e entidades sindicais, com certeza não veríamos tão poucas pessoas querendo assumir a continuidade do trabalho da família na propriedade rural”, enfatiza. “Tenho uma vida financeira que, com certeza, dificilmente teria na cidade. Tenho tudo. Não posso me queixar. Mas é preciso trabalhar. E muito. Nada cai do céu”, finaliza.