A lei federal nº 12.732, em vigor desde 23 de maio deste ano, que determina que o tratamento para pacientes com câncer pelo SUS comece até 60 dias após do diagnóstico, corre riscos na área da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS). Pelo menos com relação à radioterapia, em que a média de espera dos 162 pacientes que hoje aguardam pelo tratamento pode chegar a 80 dias. Isso porque, que desde agosto do ano passado, com o encerramento dos serviços pelo Hospital Saúde, de Caxias do Sul, o Hospital Tacchini é o único credenciado pelo SUS para oferecer o serviço na região. Como a demanda pelo tratamento é maior que a capacidade do hospital bento-gonçalvense – que ampliou para quatro turnos a oferta do serviço – em atendê-la, a fila de espera só aumenta.

Para tentar reduzir a espera, a 5ª CRS aposta em duas soluções, uma paliativa e outra mais eficaz, porém demorada. Há cerca de três meses, uma parceria com o Hospital Bruno Born, de Lajeado, garante pelo menos 20 atendimentos mensais de pacientes serranos no Vale do Taquari, e a coordenadoria negocia a ampliação do número de radioterapias prestadas aos pacientes da Serra no hospital em Lajeado. O titular da 16ª CRS disse que é praticamente certo o acordo e que até o final deste mês a instituição de saúde poderá passar a receber novos pacientes. A instituição deve ampliar a jornada de trabalho a partir de agosto, com vistas a atender a demanda reprimida. A ideia é estender o atendimento até as 20h. Na prática, a 16ª CRS, com sede em Lajeado, cederia vagas que não estariam sendo utilizadas para atender aos pacientes da Serra que hoje não conseguem ser atendidos pelo Tacchini, referência para 48 cidades da região e que destina 75% de sua capacidade de atendimento para o SUS.

A outra medida é a conclusão das obras do Centro de Alta Complexidade em Oncologia no Hospital Geral, também em Caxias do Sul, iniciadas este ano, prevista para maio de 2014, o que vai possibilitar a reedição da oferta de radioterapia no maior município da Serra Gaúcha e a divisão da demanda serrana. Caxias já tem um aparelho de radioterapia, adquirido com recursos do governo do Estado, que está encaixotado desde 2010. Mas nunca foi colocado em funcionamento, porque dependia de um espaço adequado por conta de sua alta radiação.

Se tudo der certo, pelo menos a partir do segundo semestre do próximo ano a região poderá atender plenamente sua demanda reprimida, e casos de longas esperas copmo os registrados hoje serão parte do passado ou, ao menos, exceções à regra. Hoje, a espera prejudica o tratamento, pode significar o crescimento do problema e, em muitos casos, a diferença entre a vida e a morte. Afinal, atender as necessidades de saúde da população é função basilar dos governos.

Quando um médico dá o diagnóstico para o serviço, o paciente não pode esperar. O longo período de sofrimento do combate a uma das doenças que mais mata no país já oferece angústia suficiente a pacientes e familiares. A espera inadmissível pelo tratamento faz o sofrimento recrudescer.