Nada me ensinou a esperar mais do que a gestação. Durante os 9 meses, não há ansioso que não aprenda a se acalmar nem agitado que não aprenda a viver e a desfrutar o “carpe diem” ou, aportuguesando, o viva e desfrute o momento presente.
Numa gestação, você não pode pular etapas, não se frustra pela barriga demorar a começar a crescer, não fica sem dormir por não saber o sexo às oito semanas. É a lei da vida – ou Deus, aos crentes – mostrando como funciona.
Aos poucos, na lei da natureza, o feto vai se formando, depois de um tempo vai se fazendo notar, mexendo com mais frequência e a barriga vai crescendo, até que, “quando a fruta está madura, cai do pé”. Foi assim comigo e olhe que sou ansiosa. Esperei até ele mostrar que estava a caminho. Antes disso, até o momento, jantei fora, fiz a mudança de casa, tive reunião no trabalho e, por fim, começaram as dores. E que dores, por sinal!
Mas aprender a esperar é saber aproveitar a jornada da vida. Nós não temos controle de quase nada nesse percurso. Depois, quando o bebê nasce, também somos obrigados a não pular etapas. Ele chora, pode trocar o dia pela noite, poderá ter cólicas, dorme bastante, quer colo, é a fase. Passa. E depois começa a rir, a se virar, a comer, engatinhar, e balbucia, até aprender a falar e a andar.
E, muitas vezes, morde pra se defender. E faz xixi nas calças ao desfraldar, e faz birra pra tomar banho, e não quer mais comer legumes. E vai passar, é só uma fase.
E quando tornam-se maiores, não sabem esperar, são imediatistas, só querem celular, mas esquecemos que a criança não é uma tábula rasa – como pensado em uma das linhas de estudo anteriormente – e nasce com uma bagagem genética gigantesca que já predispõe muita coisa. E que, além disso, é também moldado pelo meio, meio esse formado, primeiramente, por pai e mãe, que delimitam limites e regras que auxiliam na modelagem de sua personalidade.
Pouco ou nada se frustram, nada perdem num jogo que ninguém ganha o tempo todo. Não se permitem viver um dia de tristeza, como se a vida fosse regada somente a alegrias.
E, mais tarde, na sociedade, são “jogados aos leões”, largados em um ambiente que não lhes ensinou a esperar, a errar e a lidar com isso, a reparar um erro ao invés de culpar ou se desculpar.
E o almoço no restaurante demora demais, e a viagem nunca chega, e é insuportável lidar com o tédio sem ter o celular. Em que mundo se vive?
E são cada vez mais raros os momentos de pracinha com a família, e diálogo na mesa do restaurante, e a olhar pra fora do carro e apreciar a paisagem ou imaginar animais nas nuvens.
E a vida vai perdendo o encanto. E o tempo passa rápido demais. E não há ansiedade que espere uma carta chegar pelo correio. E ninguém mais namora somente nos finais de semana e quartas-feiras. E ir a pé é tempo demais. Fazer filó nas casas dos outros é perda de tempo. E não preciso esperar o capítulo final da novela passar, porque posso maratonar na internet.
E a geração da pressa tomou conta, ninguém mais sabe o tempo de produção de um fruto ou o crescimento de uma árvore. Esperar um ano pra trocar de faixa é tempo demais, quatro pra falar inglês, então, nem se fala. Reprovar é perder mais um ano, inteirinho.
E a vida se torna vazia, ou melhor, cheia de tarefas demais. Estímulos demais. Não cabe mais espaço pro ócio. As crianças não ficam mais sem fazer nada, vendo TV Globinho ou Chaves. As suas agendas estão cheias. E a ansiedade pelo Natal não mais encanta.
Nem parece que esperamos 9 meses para nascer. Nem parece que fomos criados de uma forma totalmente diferente em tão pouco tempo. Cada vez menos filhos, cada vez mais excessos. E menos perdas. Mais ocupações. E rápido, sem perder tempo nem esperar demais. Isso é o que chamamos de evolução das espécies.
Chegou meu almoço. Agora vou poder saborear em paz. Espera, só tenho 15 minutos. Ah, o tempo…