Durante a pandemia, seja por demissões, fechamento de negócios ou pelo fato de ter mais tempo, surgiram novas possibilidades e caminhos

Em meio ao período de isolamento, devido a pandemia da covid-19, e até mesmo, em decorrência das mudanças no mercado, com a possibilidade de realização de home office, muitas pessoas refletiram sobre suas profissões.

Em pesquisa realizada pela empresa de recrutamento especializado Robert Half, que ouviu 1.161 profissionais, entre recrutadores, empregados e desempregados, 49% dos trabalhadores pretendiam buscar novas oportunidades em 2022. Questionados sobre a motivação da mudança, 39% afirmaram ter interesse em uma nova área de atuação, mudança de segmento ou profissão.

Conforme o levantamento, as pessoas que buscavam uma nova carreira apontaram como principais razões o desejo de inovar ou aprender algo novo (19%), a busca de realização pessoal (17%) e a expectativa de uma melhor qualidade de vida (12%).

Segundo a diretora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) de Bento Gonçalves, Rosângela Jardim, devido a pandemia as pessoas precisaram se adaptar e se recolocar no mercado de trabalho. “Seja por demissões, fechamento de negócios ou até mesmo por ter mais tempo, surgiram novas possibilidades e caminhos. Mais pessoas iniciaram seus projetos empreendedores e também resolveram investir tempo em profissões que almejavam por desejos, a exemplo da gastronomia, uma área que muitos tem por hobby ou prazer, acabou virando negócio”, ressalta.

Segundo ela, os setores que mais cresceram foram Tecnologia da Informação e o Marketing Digital. “Também importante ressaltar, que a área do Turismo está muito fomentada, e sedenta por profissionais qualificados, falta mão de obra”, destaca Rosângela.

Oportunidade de empreender

Foi também no ramo da gastronomia, que Marcos Girolometto, 41 anos, decidiu mudar de carreira. “O desejo sempre existiu, o que aconteceu foi que eu precisava mudar de rumo profissional e então decidi optar por algo que tivesse mais afinidade e sentisse prazer em realizar”, menciona.

Para isso, Girolometto decidiu se inscrever em um curso de Técnicas Culinárias. “Uni o útil ao agradável. Ao mesmo tempo realizei uma capacitação que me trouxe satisfação pessoal com a possibilidade de abrir o próprio negócio, já que os hábitos de consumo de alimentos têm se diversificado com grande velocidade, tanto em produtos quanto na sua forma de consumir, tendendo para que o cliente seja servido no conforto do lar, no seu local de trabalho ou onde quer que esteja”, ressalta.

O empresário conta que trabalhou como engenheiro metalúrgico em empresas da Serra e com a sua família em um transportadora tradicional da região. No entanto, a crise sanitária acelerou seu desejo. “Foi durante a pandemia a decisão de empreender, penso que já era uma tendencia e que ela agilizou este processo”, enfatiza.

Juntamente com seu sócio, Adalmir Atzler, eles abriram o delivery 22 Burger & Foods. “Trabalhamos com hambúrgueres artesanais grelhados e seus acompanhamentos, porém temos como objetivo complementar o cardápio com lanches rápidos e sobremesas nos próximos meses”, complementa.

Um hobby que virou profissão

Foi durante a pandemia que Lucien Giotto, de 43 anos, resolveu investir em uma das atividades que mais gosta de fazer: cozinhar. “O desejo de fazer o curso de gastronomia surgiu quando conheci um dos meus amigos que também é cozinheiro e ele me incentivou a procurar uma capacitação, então encontrei a do Senac”, conta.

Segundo ele, com o isolamento ocasionado pela covid-19, foi despertada a vontade de empreender. “Surgiu a intenção de ter uma segunda renda. Então, a gastronomia me deu essa oportunidade de ter um leque de opções e traçar um caminho novo, fazendo o que eu gosto, que é cozinhar”, ressalta.

Antes de se tornar cheff de cozinha, Giotto trabalhava em uma empresa do ramo metal mecânico. No decorrer do curso, ele relata que descobriu a sua verdadeira vocação. “Foram surgindo ideias no ramo da gastronomia e percebi também uma forma de ajudar as pessoas a fazer comida de verdade, não apenas produtos industrializados. Sendo assim iniciei com a minha família uma proposta de comer melhor, retirando de nosso dia a dia esse tipo de alimentos”, aponta Giotto.

Dessa ideia, surgiu o “Lucien Cozinha de Fundamento”, espaço localizado em Veranópolis, e que faz delivery para outros municípios da região, com um menu composto por diversos pratos. “Com comida feita literalmente em casa, com ingredientes naturais, sem aditivos e insumos indústrias”, salienta. Segundo ele, também há outro projeto em andamento ‘Lucien assados de parrilla’. “Que é o nosso churrasco, de não fazer apenas carne, mas também acompanhamentos, feitos tudo na brasa, como legumes e também sobremesas”, completa.

Atualmente, Giotto atua como cheff em dois restaurantes da Serra Gaúcha e também em seu espaço, onde pretende iniciar um trabalho em jantares, almoços e eventos privados. Futuramente, ele projeta criar um ambiente para dar cursos.

Novos caminhos

Ivaldo dos Santos Miele, 31, atualmente trabalha de forma autônoma, como social media. Durante a pandemia trocou totalmente de rumo profissional. O desejo de migrar para outra área surgiu de um sentimento de insatisfação pessoal. “Me sentia um pouco limitado e dentro de uma ‘zona de conforto’”, descreve.

Miele atuava no ramo gastronômico há 16 anos. “A transição foi um processo doloroso e levou cerca de dois anos para acontecer. Cozinhar é minha paixão e ao longo destes anos fiz de tudo, desde varrer o chão e desengordurar a cozinha até liderar uma pequena equipe e elaborar pratos exclusivos. Apesar da mudança, ainda atuo na cozinha, mas de forma mais esporádica”, afirma.

Com o lockdown decretado e com as atividades cessadas, ele decidiu investir no campo de educação e investimentos. “Fiquei sem renda e sem chão, diga-se de passagem. Este período foi o mais difícil que já enfrentei, e ainda estou enfrentando. Precisei fazer de tudo, pedi ajuda, pedi emprego, fiz renda extra, vendi quase tudo o que tinha para poder manter as contas e estudei muito, e tornei o desejo pela nova profissão o meu maior objetivo”, relembra.

Miele relata que estudou o mercado financeiro e investimentos por dois anos para sua nova profissão. “Hoje, produzo conteúdo para mídia social sobre investimentos e planejamento pessoal para ajudar o maior número possível de pessoas a melhorarem suas vidas e respectivas famílias, já que temos mais de 70% da população endividada e 50% vivendo na linha da pobreza, principalmente após a pandemia. Identifiquei essa dor nas pessoas, principalmente porque também me incluo nestas estatísticas. Meu trabalho é ajudar quem está endividado como eu e também auxiliar aqueles que querem conquistar seus objetivos com conceitos simples e uma linguagem mais acessível”, evidencia.

Questionado sobre uma dica para quem está buscando trocar de profissão ou empreender em algo novo, Miele conclui: “Nunca desista de seus sonhos! Você não gosta do que faz? Não vê sentido no seu trabalho atual? Então busque fazer o que ama, não subestime o poder da gentileza, nunca sabemos quem irá nos estender a mão e se dedique, estude, aprenda a aprender e saia da zona de conforto, corra o risco, vai doer, isso eu garanto! A vida é movimento, não existe constância e nem estabilidade, exceto pelo tempo e ele é escasso. Então, não o desperdice fazendo algo que não faça sentido para você”, finaliza.