Há alguns anos, aconteceu um fato por estas bandas, significativo e sintomático, que revela o lado obscuro da alma humana. No final de uma feira de hortifrutigranjeiros, um dos feirantes mostrou-se chateado porque a venda havia sido fraca, tendo seu caminhão de retornar ao lugar de origem quase cheio. Achando um pecado desperdiçar tanto alimento, um conhecido lhe aconselhou para que aproveitasse a carga para os porcos. “Nó, zio cán, eles me morrem”, respondeu o produtor em brasiliano.

Esse é só um exemplo. Mas as fraudes, as adulterações – lembram do leite e do queijo? – a negligência, a imprudência acontecem diariamente nas mais diversas áreas, tendo como motivação a ganância. As consequências quase sempre são nefastas ou desastrosas.

O evento mais recente que chocou o Brasil e o mundo é o caso do piloto que contava com a sorte para voar sem o necessário reabastecimento. Resultado: 71 mortos e alguns poucos sobreviventes. Juventudes roubadas, famílias destroçadas, sonhos que viraram pesadelos…

Nesse cenário permeado de malandragem, vingam os políticos, a maioria deles movidos por tal cupidez que saqueiam como se tivessem o direito e o dever de fazê-lo. E o povo, para o qual eles deveriam estar trabalhando, que se dane.

Mas nossos representantes não são extraterrestres, nem personagens fugidos dos livros de histórias… São indivíduos saídos do nosso meio, com o caráter deformado pela ganância do mesmo jeito daquele produtor inconsequente que envenena nossa mesa; do piloto irresponsável que põe vidas em jogo; do médico criminoso que faz cirurgias desnecessárias comprometendo a saúde do paciente; do contrabandista, do trapaceiro, do escroque, do cidadão comum, igual a todos nós, que criticamos, xingamos, gritamos, batemos panelas, vamos às ruas, ocupamos as redes sociais, porque estamos cansados de sermos explorados, manipulados, enganados, surrupiados, traídos, mas que não hesitamos em tirar proveito de forma não ética e moral se a oportunidade aparecer.

Ou você nunca regateou para que seu processo ficasse por cima da pilha? Nunca tentou subornar o guarda de trânsito para rasgar sua multa? Nunca estacionou no lugar reservado ao idoso ou deficiente? Nunca furou a fila usando sua influência? Nunca deu um “carteiraço” para não se submeter a alguma regra? Nunca procurou um jeitinho para driblar a fiscalização? Nunca mandou um bilhete à professora de seu filho com uma mentirinha para ele não fazer a prova? Nunca deu um raspão em algum carro estacionado e saiu de fininho? Nunca quebrou ou danificou algo e fingiu que não era com você?

Isso não é nada diante das ações gigantescas de grande parte dos políticos e suas consequências devastadoras, mas é tudo se considerarmos a formação de um caráter ético e moral, para se produzir uma geração de políticos mais éticos e morais.
Mudar a cultura da “esperteza” começa em nosso íntimo. Nós somos a mudança…