Trem-bala ligando o Rio a São Paulo, aeroportos ampliados e reformados, novos sistemas de transporte de massa nas 12 cidades-sede, o mais moderno sistema de comunicação – era isso que previam os planos iniciais do governo, sete anos atrás, quando o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo 2014. Em Bento Gonçalves, o sonho de receber a Itália e milhares de turistas estrangeiros.

Foi uma eleição de candidato único: a Fifa decidiu realizar o Mundial na América do Sul e as confederações dos países vizinhos fecharam com a candidatura brasileira. A maioria desses planos, inclusive os da nossa cidade, entretanto, ficou no mundo virtual, nas animações feitas para apresentação do projeto do Brasil: recente levantamento da Folha de São Paulo constatou que, de 167 intervenções anunciadas, 68 efetivamente estão prontas, mas outras 88 (53%) permanecem incompletas ou só serão concluídas para depois da Copa. Do total, 11 obras simplesmente não saíram do papel. Os turistas vão desembarcar em aeroportos apenas parcialmente reformados.

No mundo real, os planos para o Mundial enfrentaram os mesmos problemas que costumam atrasar obras públicas de infraestrutura no país: projetos malfeitos e/ou mal executados, burocracia, excesso de exigências de órgãos de controle ou ambientais, compromissos assumidos acima da capacidade financeira dos entes públicos. Até mesmo os estádios – imprescindíveis para a realização da Copa do Mundo – sofreram atrasos. As cobranças da sociedade pelos atrasos e problemas gerados pelas obras foram justas. E a população deve exigir das autoridades a conclusão, depois do Mundial, das obras ainda inacabadas. O efeito de tudo isso foi a decisão da maioria das seleções de chegar ao Brasil em cima da hora. Porém, nem tudo são notícias ruins.

A Copa do Mundo, mesmo assim, é uma oportunidade única para o Brasil, estados e cidades mostrarem suas melhores características e virtudes. Mais de 600 mil turistas estrangeiros devem visitar o país durante o Mundial; deve passar de três bilhões o número de pessoas que vão ver os jogos pela TV. Esses telespectadores certamente também vão assistir reportagens sobre o Brasil, as cidades-sede, a cultura, as belezas naturais e as atrações do país. Em Bento, centenas de turistas vão vir pelo menos conhecer nossas belezas. Andar de Maria Fumaça ou tirar fotos no Vale dos Vinhedos. Isto é certo.

No momento em que o país tem sua economia rateando, o Mundial é uma enorme oportunidade para o comércio e os serviços e poderá ter grande impacto para o turismo também no futuro a depender da imagem que deixe em seus visitantes. E isso depende muito de cada um de nós. Não se trata de esconder as mazelas do Brasil real, nem de vender um Brasil virtual. Mas será melhor para todos os brasileiros se a Copa do Mundo for uma experiência inesquecível para os torcedores que estão chegando ao país.