A luta cotidiana pelo fim da discriminação racial não para, e segunda-feira, 21, foi mais um dia para refletir sobre o racismo presente na sociedade. A data que comemora o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi instituída pela ONU em 1960, em referência ao Massacre de Sharpeville, na África. Em Bento Gonçalves, infelizmente, o racismo está diretamente relacionado aos imigrantes contemporâneos que chegam à Capital do Vinho em busca de uma vida melhor.

Prova disso, foi o recente caso de injúria racial exposto nas redes sociais após a divulgação de uma audiência pública na Câmara de Vereadores, em 27 de fevereiro, que reuniu 150 imigrantes haitianos para discutir as dificuldades enfrentadas por eles no município. O vereador Moisés Scussel Neto (PSDB), autor da iniciativa, explica que o objetivo da ação é conscientizar os bento-gonçalvenses que a questão dos imigrantes faz parte da realidade da cidade. “Sempre que realizamos audiências como estas, podemos entender, aprender e ouvir sobre a vivência dos envolvidos”, declara.

O parlamentar afirma, ainda, que muitas pessoas veem esses eventos como manobras para arrecadar votos. “Este é apenas um das questões envolvendo os imigrantes contemporâneos. O que precisamos é conscientizar a população sobre muitas coisas acerca deles e isso só vai acontecer com o envolvimento do maior número de pessoas e lideranças possíveis”, finaliza.

Além do preconceito, os imigrantes que chegam a Bento encontram muitas dificuldades, desde a barreira da língua até problemas com moradia. Com o objetivo de ajudar estas pessoas, nasceu a Associação de Imigrantes Contemporâneos, entidade presidida pelo o haitiano Ronal Dorval, que explica como a Associação funciona e quais suas funções na vida dos imigrantes na cidade.

Jornal Semanário: Como nasceu a Associação dos Imigrantes Contemporâneos?
Ronal Dorval: Quando eu cheguei aqui havia muitos problemas, o primeiro grupo de haitianos que veio para Bento era de 12 pessoas e só havia uma casa para todos. Depois de uma semana chegou mais cinco ou sete, o que acabou complicado a situação. Então encontramos as autoridades, os amigos e a sociedade civil, para conversarmos e explicarmos a nossa situação difícil. Porém, para buscar ajuda e sair dessas situações complicadas deveríamos criar uma associação e por meio dela encontrar as autoridades do Governo Municipal, para obter ajuda. Assim, no dia 20 de julho de 2014, nasceu a Associação.

JS: Qual o papel da Associação, o que ela faz pelos imigrantes?
Dorval: Hoje trabalhamos bastante na cidade, em primeiro lugar ajudamos os novos imigrantes a conseguir emprego, pois saímos de lá para trabalhar. Viemos para ajudar os outros que ficaram no Haiti. A Associação se reúne com os associados para achar meios de arrumar emprego e moradia. Conseguir uma casa para os novos imigrantes é muito difícil, pois as imobiliárias exigem fiador ou um dinheiro para seguro. E é muito complicado colocar em uma única casa várias pessoas diferentes que vieram de lugares distintos para morarem juntas. Assim a Associação vai em busca de soluções para melhorar a vida dessa gente.

 

Leia a entrevista completa na edição impressa do Jornal Semanário desta quarta-feira, 23 de março.