O agosto de 1919 foi uma data marcante para a História do Município. A linha da ferrovia chega à cidade, o que gerou grandes comemorações. Em cada pedra e trilho assentado, está presente a energia de homens, que acreditaram no progresso deste município, seu suor, sua alegria, pois sabiam que estavam construindo muito mais que um trilho. Estavam construindo o futuro de Bento Gonçalves. Para chegar à tecnologia capaz de construir trilhos e prédios simétricos e funcionais, foi necessário muito estudo, informações e pesquisas, tecnologia geralmente importada, mas rica em memória histórica.

Mas procedendo-a vinham engenheiros, políticos, empreiteiros, pedreiros e grande número de trabalhadores braçais. Eram belgas, castelhanos, brasileiros (gaúchos e catarinenses) e, sobretudo, imigrantes europeus e seus filhos. Sob o comando da Companhia Belga “Auxiliare”, toda essa sequência mexeu com a vida e os costumes de toda a região. Com o Decreto nº 5548, de 6 de junho de 1905, o governo Federal concedeu à Compagnie a exploração das linhas ferroviárias no Rio Grande do Sul. A referida Companhia, na época tinha sede em Bruxelas e construiu sua administração na cidade Santa Maria da Boca do Monte-RS. O preço da empreitada foi combinado em bloco, por quilômetros linear. Os materiais, segundo o Decreto, serão fornecidos pela Companhia e concorrerão por licitação as empresas Krupp da Alemanha, Creusot da França e Cockeril da Bélgica.

As lembranças daquilo que representou a vivência de momentos importantes para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural do Município deverão ser repassadas para esta geração e gerações futuras.
Ainda em 1919, o tão esperado trem chegou aos vales de Bento Gonçalves, imprimindo um novo ritmo ao comércio e a indústria do Município. O trem facilitou a circulação de mercadorias, favorecendo o comércio local. Na época, ainda predominava o setor primário e várias empresas de Bento Gonçalves transferiram seus estabelecimentos para as proximidades da estação ferroviária, para facilitar o escoamento das sua produções. Uma série de problemas, naquela época, passava sobre a economia do Município. Dentre eles a rígida atuação tributária sobre o vinho, uma das principais fontes de riqueza local e os obstáculos e dificuldades à circulação, face ao deficiente sistema dos meios de transportes. A produção estragava nos armazéns e depósitos, sujeita a deterioração e as oscilações de preços nos mercados de consumo. Muitos trabalhos exaustivos e rematadas pesquisas sócio-econômicas e estatísticas, foram elaboradas a fim de justificar a reivindicação de municípios que seriam beneficiados pela estrada de ferro, apresentando às autoridades Federais e Estaduais. E o que era esperado com ansiedade, surgiu com a primeira locomotiva chegando à estação de Bento Gonçalves, no dia 10 de agosto de 1919. A partir de então, o Município começou a desenvolver em progresso geométrico. A geração atual, com mentalidade no sistema rodoviário, aeroviário e a modernidade dos meios eletrônicos, não pode dimensionar o que significava as vias férreas de comunicação. A realidade era de que chegasse o trem, representando a riqueza e a civilização.

Parabéns Bento Gonçalves pelas pessoas que construíram o progresso e as páginas da nossa História.