Enfim aterrissamos! Suavemente, no comecinho da bota, que é onde fica Milão. Sabe quando a ficha não cai? A minha caiu logo. Eu, nascida lá em “Barbacena”, estava na capital da moda, do design, da cultura, da sofisticação, da gastronomia, dos grandes eventos… Eu e a Gisele Bündchen. E Roberto Cavalli, Gucci, Giorgio Armani, Salvatori, Prada, Louis Vuitton… Quem diria?!

Fomos, de cara, pra Piazza Del Duomo, que não é a Praça do Homem, como eu supunha, mas sim a Praça da Catedral… Se bem que até poderia ser, pois as centenas de esculturas (de)penduradas na igreja, por fora e por dentro, são quase todas de homens. E gárgulas, que, na época, eram quase a mesma coisa. Me antecipando um pouco (Florença e Roma fazem parte dos próximos capítulos), concluí que os caras tinham uma obsessão pelo físico masculino e adoravam esculpi-lo. De preferência nu, para mostrar a beleza de suas curvas e de seus músculos. Já as raras figuras femininas que vi em toda a Itália antiga, carregam uma barriguinha nada sexy. Eu acho, inclusive, no caso da Catedral de Milão, que, para compensar o descaso com as mulheres, puseram no trono mais alto, no topo da agulha maior, a imagem da Madonnina dourada. Ah, sim: a construção dessa imensa, imponente, majestosa igreja iniciou no século XIV e foi concluída no século dezoito. Deve vir daí a inspiração para muitas obras brasileiras…

Fascinante e intrigante a engenharia e arte antigas. Acredito que não haja nada contemporâneo que se compare a isso. Mas, em termos espirituais, duvido que a gente vá encontrar Deus nos altares desses magníficos templos. Acho que Ele prefere andar nas ruas, misturado ao povo… Mas esta é questão para mais tarde.

Voltando para as belezas materiais: o segundo passeio foi pela Galleria Vittorio Emanuele, que é o sonho de consumo de muita gente. Na praça, nos deparamos com um aglomerado de turistas rindo. Ao nos aproximarmos, vimos o tal desenho do touro no chão, cuja tradição manda tocar com o calcanhar e girar três vezes sobre ele. Não tive saco para aguardar a minha vez de pisar nos testículos do animal. Além do mais, quem precisava de sorte? Eu já tinha o suficiente para essa minha primeira viagem.

Mas nem só de alimento para o espírito o homem vive. Depois de horas andando em círculo, jogamos nosso cansaço num bistrô, onde fizemos os pedidos em italiano original… original de Bento. Pedi “refrigerante “gelato”, pois estava morrendo de sede. Adivinhem o que o garçom me serviu: “uno gelato” num cascão, nos sabores pistache, creme e morango. Eu agradeci e ele retrucou:

-Prégo!

Se eu não fosse uma “madám”, teria respondido: “Vai você!”

Ora bolas! Chupar prego… Eu, hein?!