Lá pelos anos setenta, eu e algumas meninas frequentávamos o famoso curso do PREMEN – Programa de Expansão e Melhoria do Ensino – que nos tornaria aptas a trabalhar nas escolas modelos chamadas de Polivalentes. Elas tinham como proposta preparar os jovens para o mercado de trabalho, incluindo ao núcleo comum as técnicas Domésticas, Agrícolas, Industriais e Comerciais, com salas específicas extremamente equipadas, inclusive o Laboratório de Ciências com toda a parafernália necessária para experimentação científica.

Aquele foi um período de vacas gordas, em que todos os professores do Polivalente puderam comprar seu fusquinha – bege, amarelo, azul-marinho, azul claro, vermelho, roxo, verde-oliva…, um verdadeiro arco-íris no pátio do colégio. Carrinhos que protagonizaram histórias hilárias, que contarei oportunamente.

O nosso Colégio foi transformado em escola comum com o nome Landell de Moura após a retomada da democracia. E nós, professores, fomos remanejados para a categoria geral do magistério gaúcho, onde perdemos alguns direitos, particularmente financeiros.

Mas, retomando os fatos do início, dizia que estávamos nos preparando com formação intensiva, que nos obrigava a permanecer em Porto Alegre. Instaladas em uma república com aposentos de seis beliches, escolhi ficar no alto – sempre tive pânico de coisas ruindo sobre mim. Ah! Sem problemas com quem dormia no andar de baixo. Adquiri este excesso de fofura muito tempo depois.

Com dedicação exclusiva, a gente estudava até a exaustão, inclusive antes de dormir. O ritual era sempre o mesmo: cada uma de nós, no seu quadrilátero, revia a matéria em silêncio, até que alguém decidia apagar a luz.

Numa certa noite, entrei em estado zen antes das outras, mas acabei acordando sobressaltada. Estava totalmente cega. Não conseguia vislumbrar um vulto qualquer. Entrei em pânico:
-Gurias, socorro! Não estou enxergando nada! Fiquei cega! Vou cair do beliche!

Demorou elas compreenderem a amplitude do meu desespero. Um minuto depois, que pareceu uma eternidade, ouviu-se uma sonora gargalhada.
Fiquei “p” da vida. Eu, chorando, e elas, rindo. Até que uma das colegas resolveu acabar com o suspense. Com um “click”, acendeu a luz.