Um homicídio doloso a cada 20 dias. Esta é a média da violência em Bento Gonçalves este ano. Com a execução do apenado João Manoel da Silva, de 39 anos, quando deixava do Presídio Estadual de Bento Gonçalves, assassinado com 17 tiros disparados de uma motocicleta na manhã de ontem, em pleno centro da cidade, já são 10 assassinatos desde o início de 2013. Os números apontam a manutenção deste tipo de crime na cidade no mesmo período pelo menos nos últimos dois anos, quando a contabilidade final atingiu a marca macabra de 15 assassinatos por ano.

O número, que se repete desde 2011, resulta em uma média considerada epidêmica por especialistas, calculada em 10 vítimas/ano por grupo de 100 mil habitantes. Menor que a taxa de homicídios registrada no país, que tem oscilado nos últimos 33 anos em torno de 27 vítimas/ano por grupo de 100 mil habitantes, o resultado aponta para um dado preocupante – a manutenção da taxa de assassinatos na cidade – e confirma que a incidência maior de homicídios migrou dos maiores centros urbanos, antes tidos como excessivamente violentos, para cidades que eram encaradas como pacatas, como Bento. Enquanto os índices dos homicídios dolosos caem em cidades como Caxias do Sul, Porto Alegre, São Paulo ou Rio de Janeiro, o caminho inverso, ou pelo menos a manutenção dos índices, é verificado na cidade.

Os números obtidos em Bento Gonçalves ilustram à perfeição a troca da vida pacata de antigamente pela rotina de violência. Em 10 anos, o número de homicídios cresceu 200%: em 2002, foram registrados cinco assassinatos na cidade. De 2006 para cá, o número de homicídios dobrou. Lá, foram registrados sete assassinatos em Bento. Nos últimos cinco anos, o número passou de 10 ocorrências em 2008 para os 15 assassinatos registrados em 2011 e 2012.

As principais causas apontadas para esta migração da violência dos grandes centros para cidades menos populosas são a abertura de novos polos de desenvolvimento em lugares com mecanismos de segurança muito precários, a proximidade da fronteira, o turismo predatório e a transferência das metrópoles para o interior de quadrilhas do crime organizado, tráfico de drogas e milícias. O acesso fácil a armas de fogo e a impunidade também estão entre as principais causas do aumento da criminalidade. Muitos homicídios são crimes por motivos fúteis e banais, cometidos por um familiar, um amigo, um vizinho, um colega de trabalho, por desavença ou vingança. Mas é a própria criminalidade que convive com os piores índices: a chamada queima de arquivo e a disputa de poder, principalmente no que se refere ao tráfico de drogas, estão entre os motivos mais apontados.

Os moradores é que sofrem com a transformação da outrora pacata cidade, enquanto as forças de segurança seguem fazendo malabarismos para se manter firmes no combate à criminalidade convivendo com uma realidade em que, muitas vezes, os criminosos estão mais bem aparelhados que as polícias, com armas mais poderosas e veículos mais velozes, por exemplo, as pequenas cidades vão aprendendo a se equilibrar em um cotidiano cada vez mais violento.