Com a Covid-19, bandidos utilizam formas virtuais para cometer crimes

No dia 10 de setembro, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul divulgou um estudo sobre os crimes cometidos no estado, até o mês de agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. Na pesquisa, é possível ver as quedas que foram registradas em alguns setores, como de vítimas de homicídios, roubos de veículos e latrocínios.

Esses indícios estão relacionados a Operação RS Seguro, que realiza esforço especial para o combate ao crime em 23 municípios que concentravam os maiores indicadores criminais da última década. Essas cidades representam 65,4% da redução de homicídios no território gaúcho.

Bento está segura?

A partir dessa pesquisa e dados cedidos pelo Governo Estadual, é possível avaliar alguns índices criminais de Bento Gonçalves. Com a pandemia, crimes como estelionato, por exemplo, ganharam força na cidade, já que pode ser efetuado de qualquer lugar.

No site da SSP é possível conferir os indicadores criminais dos municípios, permitindo isolar informações de cidades e seus delitos. Em Bento, somando todos os itens, é possível ver que até agosto de 2021 já foram registradas 1.787 ocorrências, enquanto ano passado, nesse mesmo período, foram 1.398. Isso representa um aumento de 21,7% nos crimes na Capital do Vinho.
Todas as informações levadas em conta abrangem o período de janeiro a agosto de cada um dos anos citados.

Vítimas por homicídio

Em 2021, a cidade já registrou 24 vítimas de homicídio doloso, sendo que em 2020, foram 18. Isso representa um aumento de 25% nos casos. Mesmo o valor sendo alto, ainda é menor que o apresentado em 2019, ano pré-pandemia, onde 34 pessoas já tinham sido mortas.

O Tenente–Coronel Luís Fernando Becker menciona o trabalho da Brigada Militar nessa frente, apreendendo armas e drogas que poderiam influenciar no aumento desses fatos. Ele menciona que duas facções disputam o tráfico de entorpecentes na cidade, os “manos da serra” e os “abertos”. “O tráfico de drogas está muito relacionado ao homicídio, é uma disputa por poder entre duas organizações criminosas. Eles acabam tendo uma briga que resulta em assassinatos dos dois lados. A maior parte é resultado de alguma execução e alguns casos passionais que resultaram em morte” informa.

Estelionato

O estelionato é a prática de fraude em contratos e convenções, ou seja, a enganação de outras pessoas, para benefício próprio. Esse tipo de crime foi o que mais cresceu nos últimos dois anos em Bento Gonçalves. Em 2019, tivemos 278 estelionatos, enquanto neste ano já foram registrados 862 casos, um aumento de 67,7%.

Mesmo em 2020, o ano em que iniciou a pandemia e abriu brecha para que situações dessa fossem mais corriqueiras, está em registro 555 casos, 35,6% menor do que ocorre esse ano. Podemos dizer que esse tipo de crime está em moda na cidade, já que representa o maior crescimento entre todos indicadores criminais do município.

Becker fala que esse tipo de delito é muito prático para os criminosos, já que podem efetuar de qualquer lugar, através de um celular ou meio eletrônico. Também é mais complicada a prisão desses indivíduos por estarem atrás de paredes virtuais. Diz que já houve operações que resultaram na prisão de meliantes atuando nessa área.

A Delegada Maria Isabel reforça que esse movimento iniciou durante a pandemia, quando muitos cidadãos começaram a usar transferências bancárias via internet, fazendo com que os estelionatários tivessem muito campo para operar nesse âmbito dos golpes. “A nossa orientação é que as pessoas desconfiem de abordagens de estranhos, principalmente relacionado a redes sociais, esses golpes do nudes, que as pessoas conversam e enviam fotos para estranhos. Evitem enviar fotos e documentos para outros em um primeiro contato”, orienta.

Ela lembra que todas as vítimas de estelionato podem ir até a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) para registrar o fato ou acessar o site da Polícia Civil do Rio Grande do Sul para registrar o boletim de ocorrência.

Delitos relacionados à armas e munições

Esse tipo de crime diz respeito tanto as outras ilegalidades usadas com armas de fogo, como as apreensões de armamentos que a polícia realiza em policiamento ostensivo e outras ações táticas. Esse índice aumentou bastante em relação ao ano passado, 47%, subindo de 36 para 68 ocorrências. O número é maior, até mesmo, que 2019, onde houveram 40 casos desse tipo.

Becker explica um caso que foi registrado há pouco tempo. “Tivemos uma apreensão recente de um jovem de 17 anos com vários antecedentes criminais, como homicídio, e portava um revólver .357 Magnum, uma arma de grande letalidade. São várias dessas apreensões que poderiam resultar em mortes, em assaltos, em outros crimes e nossos policiais são incansáveis nesse quesito de tirar esses objetos das ruas”, exemplifica.

Furto e roubo de veículos

Um dado que está alinhado ao restante do estado, ressaltado pelo Coronel Becker, é o de furto e roubo de veículos. Em Bento, até agosto deste ano, 85 veículos foram levados, enquanto em 2020, foram 88 nesse mesmo tempo. É uma redução baixa, mas ainda representa uma queda nesse índice.

A diferença maior fica entre 2019 e agora, uma redução de mais de 40% nessa atividade criminosa. Becker fala que essa redução é fruto de diversos fatores, como trabalhos mais incisivos da Brigada em pontos de desmanches de veículos, que ocasionaram na apreensão de criminosos recorrentes nesse tipo de delito.

Furtos na cidade

O furto ocorre quando um pertence é retirado de outra pessoa, contra vontade, mas sem uso de força, normalmente sendo realizado às escondidas pelo ladrão. Essa situação aumentou menos que os casos de homicídios e estelionatos, somente 12,9% deste ano, em relação ao passado. Em 2020 aconteceram 355 casos em que pessoas tiveram seus pertences furtados. Já em 2021, são 408 ocorrências. Novamente, em 2019 esse índice foi mais alto, somando 573 situações até agosto.

Roubos

Diferente do furto, os casos de roubo envolvem ameaça ou violência na hora do criminoso levar o item da vítima. Em relação ao registro, esse indicador é semelhante a alguns outros, em que o índice deste ano é maior que ano passado, mas menor que 2019. Até agora, ocorreram 113 roubos em Bento, enquanto 2020 teve 103, um aumento de 8,84%. Em 2019, ocorreram 171.

Entorpecentes

Outro índice que teve diminuição foi relacionado a drogas, o de posse ou tráfico de entorpecentes. Somando esses dois tipos diferentes de crime, até agora, temos 200 ocorrências. Ano passado foram registradas 222, representando uma diminuição de 9,9% para 2021. Entre os três anos utilizados como base do estudo, 2020 foi o que mais teve, até mesmo que 2019.

Becker comenta que o batalhão da Brigada Militar recolheu mais de 100kg de drogas na região e que em Bento Gonçalves foi uma média de 70kg apreendidos. “Nós contamos muito com o apoio da população que passa muitas informações através de grupos de relação de bairros e comércios que ajudam a identificar suspeitos. A abordagem no dia a dia dos policiais acaba resultando em diversas prisões, até mesmo de foragidos e isso influencia no aspecto de segurança pública” conclui.

Sobre crimes gerais da cidade, o Coronel fala que ainda há muito a ser feito para que os índices possam continuar caindo. “A gente sempre quer melhorar, temos um esforço constante para almejar essa segurança pública” pontua.