Depois de vários anos de inglês no currículo escolar, saí falando fluentemente “The book is on the table”, além do popularíssimo “Meu Deus”, em carioquês – “Mai Gódji”.
Mas, de repente, me dou conta de que meu vocabulário é extenso e cotidiano. Domino a Língua – especialmente com ervilhas – e quase não consigo expressar uma ideia sem apelar a este monstro chamado “English”, que me atormentou a vida através do Mister Müller, que Deus o tenha.
Ok, ok! Talvez nem saiba o significado original da maioria das palavras que uso, mas isso não é pecado que necessite de redenção. Por exemplo, mesmo sem desconfiar de que “to vanish” significa “desaparecer”, muitas vezes pedi o tira manchas do mesmo nome. “Dove” também nunca faltou aqui, em casa, embora ninguém de nós soubesse que estava tomando banho com uma pomba. Já
“Axe” é um desodorante que me deixa em dúvida… Será que machado corta cheiro de asa?
De todos, o que me surpreendeu nesta pesquisa de hoje foi “Sundown”. É bem verdade que sempre tive uma queda pelo nome – tão poético! – mas, na minha cabeça, nunca se tratou de por do sol, afinal quem é que usa protetor solar quando o astro recolhe seus raios?
Pois é! Vive-se perfeitamente bem sem entender o básico do Inglês… Ou não?! Vou relatar um fato ocorrido recentemente, e você decide!
Então a família estava em Dubai, no complexo de entretenimento Global Village, que expõe a cultura de diversos países e que oferece também um grande parque de diversões. Enquanto o pai, na bilheteria, arranhava seu parco inglês, esposa e filha aguardavam sentadas em frente a um brinquedo.
Eis então que se aproxima um indiano de turbante amarelo conduzindo uma indianazinha de uns cinco anos pela mão, disposto a manter uma boa conversa.
-Blá-blá-blá- blá-blá-blá- blá-blá-blá…
A nossa menina sorri. Animado, ele pergunta:
-Blá-blá-blá? Blá-blá-blá? Blá-blá-blá…?
-Yes… Yes… Yes… – responde ela.
Satisfeito, ele acomoda a sua pequena ao lado das duas e some na multidão.
-Gabi, você entendeu alguma coisa? – pergunta a mulher.
-Não, né! Eu só quis ser simpática.
Daí em diante, foi um caos total, sem que houvesse a mínima chance de comunicação entre as três criaturas que se olhavam apatetadas. Depois de um tempo que pareceu infinito, a indianazinha percebeu a fria em que se metera e saiu voando ao encontro do (ir)responsável que a deixara aí. Felizmente, ele não se encontrava muito longe.
-Ela nem disse “Good bye” – reclamaram as duas, rindo aliviadas.
Nesse dia, a brasileirinha aprendeu nova frase em inglês para usar nas futuras viagens: “Sorry, I don’t speak English”. Assim não vai correr o risco de adotar uma indiana. Ou francesa, italiana, japonesa…