A doença, não é apenas um desafio individual para a saúde, como também desencadeia várias outras doenças

O dia 4 de março é considerado o Dia Mundial da Obesidade. A data tem como objetivo conscientizar a população que a obesidade é uma doença crônica não transmissível, que afeta todas as idades e também os mais socialmente vulneráveis. A doença, não é apenas um desafio individual para a saúde, como também desencadeia várias outras enfermidades mundiais.


Segundo a Organização Nacional da Saúde (OMS), a obesidade é o acúmulo de gordura corporal em excesso, o que determina prejuízos a saúde. Cerca de e 650 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas pela enfermidade. O diagnóstico de obesidade vem através do cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) de cada indivíduo. Para realizar o cálculo, é dividindo o peso (kg) pela altura (m) ao quadrado.


Os valores do IMC considerados normais variam de 18,5 a 24,09, abaixo de 18,5 é baixo peso, entre 25 e 29,9 sobrepeso, 30 e 34,9 obesidades grau I, 35 e 39,9: obesidade grau II e acima de 40: obesidade grau III. No site da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, é disponibilizado uma calculadora virtual, onde basta colocar o peso e altura que automaticamente seu grau será gerado.
De acordo com a nutricionista Franciele Valduga, “o IMC indica o estado nutricional, sendo utilizado para estratificar o risco de desenvolvimento e/ou presença de comorbidades, assim como norteia a estratégia terapêutica a ser utilizada. Também é necessário uma avaliação completa, com coleta do histórico de saúde e de aspectos comportamentais e sociais; exame físico e exames laboratoriais e de imagem, conforme julgamento clínico” ressalta.

Nutricionista Franciele Valduga fala sobre prevenção e cuidados em relação a obesidade


Além do cálculo do IMC, Franciele destaca que é necessário realizar uma avaliação completa “com coleta do histórico de saúde completo e de aspectos comportamentais e sociais; exame físico e exames laboratoriais e de imagem, conforme julgamento clínico” explica.


No Brasil, o sobrepeso aumentou drasticamente, cerca de 72% nos últimos 13 anos saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. A doença, é semelhante nos homens e mulheres, diminuindo apenas com o aumento da escolaridade. Dados publicados pela Fiocruz, indica que 56% dos adultos brasileiros têm obesidade ou sobrepeso, sendo 34% com obesidade e 22% com sobrepeso.


Já a obesidade infantil, segundo dados divulgado em 2022 pela OMS, a doença afeta 3,1 milhões de crianças menores de dez anos no Brasil. O dado preocupa, pois cerca de 6,4 milhões de crianças tem excesso de peso, o que posteriormente desencadeia a doença.
Conforme os dados coletados pela OMS em 2019, na faixa etária de crianças menores de cinco anos, o índice de sobrepeso é de 14,8% sendo que 7% já apresentam obesidade. E crianças entre 5 e 9 anos a doença afeta 13,2% e 28% tem sobrepeso. Em adolescentes, na faixa etária de 12 a 17 anos o índice é de 7%.


De acordo com o cenário e a tendência atual, o sobrepeso e a obesidade entre adultos aumentará de 57% em 2023 para 75% em 2044. Em 20 anos, o sobrepeso e a obesidade devem causar 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas e 1,2 milhão de mortes. Além disso, estima-se um grande impacto econômico para o país, com gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e saúde suplementar.


O preconceito em relação a obesidade ainda persiste nos dias atuais. Os relatos de constrangimento e vergonha são comuns entre as pessoas que sofrem a doença. “A obesidade pode afetar a saúde mental e emocional de diversas formas, aumentando o risco de depressão, ansiedade e compulsão alimentar. Pessoas com depressão têm mais probabilidade de ter a doença, e pessoas com obesidade têm mais probabilidade de ter depressão. A enfermidade pode estar relacionada a transtornos de humor, esquizofrenia, TDAH e trauma” informa Franciele.


Contrariando a crença popular de que a obesidade é simplesmente resultado de “comer demais”, especialistas apontam para uma complexa interação de fatores que contribuem para o ganho de peso excessivo. Entre os principais estão:

  • Mudanças nos hábitos alimentares: a crescente disponibilidade de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares, gorduras saturadas e sódio, aliada ao consumo excessivo de bebidas açucaradas, tem contribuído para o aumento da ingestão calórica.
  • Sedentarismo: a falta de atividade física regular, reduz o gasto energético e favorece o acúmulo de gordura.
  • Fatores genéticos: estudos científicos comprovam que a predisposição genética desempenha um papel importante na obesidade, influenciando o metabolismo e a regulação do apetite.
  • Fatores psicológicos: Estresse, ansiedade e depressão podem levar ao consumo excessivo de alimentos como forma de compensação emocional.
  • Fatores socioeconômicos: A falta de acesso a alimentos saudáveis e a espaços para a prática de atividades físicas em comunidades carentes contribui para a desigualdade na incidência da obesidade.

A obesidade e o sobrepeso acarretam diversas doenças. “Pressão alta, diabetes, problemas nas articulações, gota, refluxo esofágico, dificuldade respiratória, pedra na vesícula e alguns tipos de câncer. Há também associação com questões psicológicas, como depressão, ansiedade e alterações na autoestima podem ser causas pela obesidade” explica a nutricionista.
A prevenção da doença, começa na infância com a com a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a prática regular de atividades físicas. Além disso, a reeducação alimentar, em qualquer idade, é um fator significativo no combate à obesidade, evitando alimentação de ultraprocessados.


Reconhecer a diferença entre a fome física e emocional é o primeiro passo para uma relação mais saudável com a comida. A fome física é uma necessidade fisiológica do corpo por energia e nutrientes, já a fome emocional desencadeia emoções, como estresse, ansiedade, tristeza, tédio ou alegria. “A fome fisiológica não está relacionada com alimentos específicos, e é quando o corpo manda sinais, como: dores de cabeça, dores de estômago, irritação, além de surgir gradualmente e a última refeição já ter sido feita há algum tempo. Já a fome psicológica/emocional, é aquela que surge repentinamente, geralmente é fome/desejo de um alimento específico e você sabe que se comer este alimento irá te trazer um prazer, um conforto, ou até mesmo pode ser por recompensa, por exemplo, após um dia exaustivo no trabalho” esclarece.


O tratamento da obesidade é um processo contínuo, que exige acompanhamento multidisciplinar. Uma equipe de profissionais de saúde, composta por endócrino, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos, pode fornecer o suporte necessário para o sucesso do tratamento. Franciele frisa “A principal recomendação é ter uma alimentação baseada em alimentos in natura e minimamente processados, ou seja, comer comida de verdade – Descascar mais e desembalar menos conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira, que inclusive recomendo a leitura e tem acesso gratuito. Junto a isso, reduzir consideravelmente o consumo de alimentos ultraprocessados, que estão amplamente associados ao ganho de peso”, conclui.