Apesar de gostarem de viver no local, muitos habitantes se incomodam ao ter que se locomover à bairros vizinhos para acessar estabelecimentos
O Fenavinho, conhecido por abrigar o complexo de eventos da Fundaparque, tem uma estrutura que recebe elogios dos moradores, muitos deles vivendo há mais de 40 anos no local. Mas, ainda apontam mudanças que dizem ser necessárias, principalmente no que se refere à expansão comercial do lugar. Dalça Schroder, de 74 anos, nasceu, cresceu e ainda vive no bairro. A residente relembra de quando morava com a mãe e seus 12 irmãos. “Ela teve que trabalhar muito para nos sustentar, tínhamos dois parreirais e éramos entre 14. Aos 18 anos fui procurar emprego, porque não queria mais trabalhar na roça. De noite estudava e de dia trabalhava”, conta.
Ao comentar sobre o passado, Dalça pensa em como era o Fenavinho, dizendo que, agora, é um bairro em desenvolvimento. “Quando era criança, aqui havia três casas. Agora, todo dia surge uma nova ou pessoas que se mudam para cá. São poucos terrenos vazios, já que muita gente tem escolhido este lugar para viver”, revela.
Ela quase não tem reclamações, e rasga elogios ao lugar que vive. “Morar aqui é maravilhoso. Os vizinhos são todos muito bons e fazer amizade é fácil. A melhor parte é que têm poucos edifícios, a maior parte é de casas, tem ônibus, é perto do centro e bem tranquilo. Se me perguntar se quero trocar, não mudo por nada”, sentencia a aposentada.
Leonilda Ross moradora há 50 anos elogia o local, mas espera que ele seja ainda melhor para seus netos
Outra moradora, Leonilda Ross, não nasceu no bairro onde vive há mais de 50 anos, e revela que se mudou após casar. “Quando cheguei havia poucas casas, não tinha nem água encanada, a estrada era de chão, praticamente uma colônia. Vi o bairro crescendo e envelheci junto. A parte boa é ter os filhos pertinho, gostam tanto daqui que decidiram viver aqui também”, revela.
A dona de casa se incomoda um pouco com a falta de mais estabelecimentos comerciais. “Seria bom ter uma farmácia e um supermercado grande aqui, porque mais próximo de nós só no Licorsul ou no Centro. Sentimos falta de um comércio maior e com mais opções, principalmente para não precisarmos nos deslocar tanto”, cobra.
Sueli Bortolosso também foi morar no bairro quando casou aos 24 anos. Viúva há 26, ela afirma que o bairro tem qualidades, como segurança, silêncio e a boa vizinhança. Na mesma linha de Leonilda, ela sente falta de uma farmácia e de um mercado de grande porte. “Para comprar remédios só indo até no bairro Planalto ou no posto, e é complicado. O nosso bairro é grande, não entendo porque não tem. Já o Posto de Saúde é muito bom, atendem muito bem a gente”, garante.
Sueli vai além e reclama dos horários do ônibus que faz o transporte coletivo na região, embora entenda que muitos moradores do bairro têm carros, o que faz com que as empresas de transporte público não disponibilizem tantos horários. “O ônibus é bom, só que os horários são complicados. O último pela manhã é às 9h30min. Depois, só ao meio dia”, diz.
Sueli Bortolosso gostaria que o bairro tivesse mais comércios, principalmente uma farmácia
Mudança ao longo dos anos
O Fenavinho, em seu início, se parecia muito com a colônia, segundo os moradores mais antigos que realizavam cultivos variados em seus terrenos. “Logo que cheguei plantava milho e feijão no meu terreno. Vim da colônia de Santa Tereza, onde as terras do meu pai eram poucas e éramos entre 10 irmãos. Então deixei para eles e vim procurar um trabalho melhor na cidade”, revela Fiorovante Panizzi, morador do bairro há 50 anos.
Ele e a esposa, Inês Panizzi, garantem que o bairro é bom, mas que com o passar do tempo observou mudanças, principalmente relacionadas à segurança. “Sempre foi um local calmo e tranquilo. Ultimamente notamos alguns problemas com drogas na nossa rua, mas é algo bem recente. O único problema é esse”, diz o casal.
Fiorovante Panizzi e a esposa Inês Panizzi se sentem, na maior parte das vezes, seguros no Fenavinho
Panizzi é outro que diz sentir falta de um local onde pudesse comprar medicamentos. “É um bairro muito bom, tanto de viver quanto ao acesso à saúde, porque temos o postinho, o Tachinni, que não fica tão longe, a UPA 24 Horas, mas precisamos mesmo é de uma farmácia”. Ele faz coro aos demais moradores ao dizer que o bairro precisa ter um supermercado, “já que só tem no Licorsul”.
Há 45 anos Gismar Berdardini passou a morar no Fenavinho com a esposa, Diva Berdardini. Quando adquiriu o terreno eram poucas as casas que faziam parte do cenário. A do casal foi uma das primeiras. “Era quase só área verde, eucalipto, poucas casas e um pavilhão da Fenavinho. O bairro realmente mudou muito nestas quatro décadas e os moradores são muito bons, trabalhadores e pessoas tranquilas de viver próximo”, avalia.
Ele e a esposa instalaram uma pousada, um lugar pensado para as pessoas que vêm de outras cidades. “Há 20 anos notamos que vinha muita gente de fora para trabalhar em Bento e não tinham onde se instalar. Tínhamos uma casa que fomos ampliando, e deu muito certo. Estamos sempre com lotação esgotada e pessoas que procuram a pousada”, enaltece.
O comércio do bairro
Apesar de muitos moradores sugerirem uma expansão comercial, o bairro conta com estabelecimentos como mercados (de pequeno porte), padarias, uma loja de peças e uma de roupas. A maioria é ponto comercial de moradores do lugar, que resolveram investir em um negócio próprio. Como José Adellar, que trabalhava com padarias desde 1995. Quando estava em seu último emprego decidiu que era hora de ter seu próprio comércio. “Fui em diversos bairros e simpatizei muito com o Fenavinho. E não errei, porque fui muito bem recebido por todos os moradores, não me arrependo em nenhum momento”, assegura.
José Dutra, comerciante do bairro, alega que os residentes poderiam apoiar mais o comércio local
A padaria de Adellar, em quatro anos com as portas abertas, já atraiu clientela de outros bairros. “Tem quem vem de vários lugares, principalmente por causa do pastel que é nosso carro chefe. Mas a maioria dos fregueses são residentes aqui pela volta, que vêm pela manhã e tarde, já que é a única padaria daqui”, exalta.
Adellar salienta que as crises até podem existir, mas ensina que manter a qualidade e o padrão são necessários para que os negócios tenham sucesso. “Acredito que quando se faz as coisas bem feitas, não existe ano ruim ou crise. É preciso fazer acontecer. Quem trabalha com matéria-prima de boa qualidade, tem produto bom e mantem um padrão de qualidade, dá certo”, aconselha.
Jorge Ferraz também é morador e empreendedor, tem açougue. Após duas décadas no bairro, ele diz que só tem a agradecer. “Escolhi o Fenavinho há 23 anos para abrigar o nosso comércio. Minha esposa é natural daqui, nossos amigos moram no bairro e nós também. Por isso decidimos abrir e mantê-lo neste local. Temos somente a agradecer pelos moradores e amigos”, declara.
Sobre as vendas, Ferraz não reclama, pois acredita que as mudanças que ocorreram fazem parte de diferentes momentos da economia. “Neste ano, todo mundo está sentindo um pouco de dificuldade, porque durante a pandemia (da Covid-19) todo mundo sofreu, o povo sentiu isso, mas vamos nos virando como podemos”, alega.
Jovem herdou o empreendimento de sua mãe
Priscila Stivanin herdou a loja de sua mãe, Salete Stivanin. Desde que nasceu ela vive no Fenavinho, onde mantém a loja na avenida principal. “Na realidade, a rua 7 de Setembro começou a evoluir há uns 10 anos. Acredito que é um bairro mais residencial, com muitas moradias, daí existem poucos locais para abrir outros estabelecimentos”, entende.
Fotos: Renata Carvalho