Cardiologista destaca que não há evidência definitiva da associação entre risco de câncer e uso da classe de remédios, pois os estudos estão em andamento
Na última semana, o anúncio da farmacêutica Sanofi Medley sobre o recolhimento de três formulações de medicamentos com o princípio ativo losartana do mercado assustou muitas pessoas, pois o remédio é comumente utilizado para tratar hipertensão. A ação ocorreu após serem encontradas impurezas nos comprimidos que podem causar mutações e aumentar o risco de câncer.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, na segunda-feira, 14, um comunicado a respeito do recolhimento de remédios. A entidade informou que, até agora, as suspensões das vendas aconteceram de forma voluntária pelas próprias empresas farmacêuticas. A Anvisa também esclareceu que não há evidências de que as impurezas encontradas nos medicamentos tenham causado danos à saúde.
Segundo o cardiologista Fernando Tormen, a principal ação da losartana é a redução da pressão arterial. Ele explica que órgãos regulatórios mundiais (Anvisa, Food and Drug Administration, entre outros) detectaram uma quantidade acima do aceitável de componentes que podem aumentar o risco de câncer. “Essas substâncias, chamadas nitrosaminas, são encontradas no meio ambiente, inclusive em alimentos. A exposição crônica, cumulativa e em altos níveis do ser humano, deve ser evitada. Em algumas medicações, esse elemento é inerente ao processo químico de fabricação, ou seja, parte da molécula. No entanto, em outros casos, é oriundo de contaminação por solventes ou outras substâncias presentes durante o processo de fabricação”, explica.
O médico ainda afirma que não há evidência definitiva da associação entre risco de câncer e uso da classe de remédios a qual pertence a losartana, pois os estudos estão em andamento. “Estão sendo testados os medicamentos que podem estar sujeitos a este problema. Quando os níveis de tais impurezas estão acima do limite de segurança, o fabricante deve desenvolver estratégias para reduzir a valores aceitáveis. Alguns estão sendo retirados do mercado, provavelmente de maneira temporária, até que as dúvidas sejam sanadas e os processos ajustados”, ressalta.
Quem toma losartana deve parar o tratamento?
Tormen reitera que não existem evidências que recomendem a modificação imediata ou urgente da estratégia terapêutica com losartana, já que essa classe medicamentosa está em uso há décadas e foi amplamente estudada. No decorrer dos anos, o médico destaca que o remédio apresentou resultados positivos comprovados tanto em pacientes com hipertensão arterial como com insuficiência cardíaca, entre outros problemas de saúde, sem um aumento evidente do risco de outras doenças. “Os medicamentos pertencentes a lotes retirados de circulação devem ser recolhidos e substituídos, conforme orientação das próprias empresas. Marcas disponíveis podem ser utilizadas”, recomenda.
Para o cardiologista, mesmo que seja comprovado o aumento do risco de câncer, ele estará relacionado ao uso contínuo e acúmulo de tais substâncias no corpo, processo que costuma demorar muitos anos. “Não é indicado parar o medicamento, pois pode ser feito uso por um período adicional limitado, especialmente enquanto as dúvidas são respondidas. Interromper o tratamento pode aumentar o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, entre outras doenças, que podem ter uma evolução extremamente grave e debilitante. Por isso, quem faz uso de losartana ou qualquer outro remédio implicado nesta questão – se surgirem mais nomes, a explicação é a mesma para todos em relação a este tema – deve manter sua medicação com toda tranquilidade até sua consulta médica de rotina, que não precisa ser adiantada em função deste fato”, salienta.
Em relação ao câncer, Tormen evidencia que deve-se focar a atenção aos métodos preventivos que comprovadamente funcionam. “Como abandono do cigarro e do excesso de álcool, estilo de vida saudável, peso adequado, entre outros”, cita. Conforme o médico, também devem ser reforçadas as medidas para diagnóstico precoce, fazendo uso do protocolo de rastreamento já aprovado e cientificamente seguro, que varia conforme o grau de risco de cada paciente. “Cabe reforçar que todo paciente que usa medicação crônica deve ser avaliado regularmente pelo seu médico, mesmo que esteja tudo bem. Um dos motivos é o fato de que, periodicamente, surgem novidades que tornam necessário ajustes para alguns pacientes”, finaliza.