Famílias estão preocupadas com a situação das águas do arroio que corta a propriedade onde residem
Moradores de São Miguel, interior de Bento Gonçalves, estão assustados e preocupados com uma situação grave envolvendo meio ambiente. Na sexta-feira, 21, uma família percebeu que ao redor do arroio Burati, que contorna a propriedade onde residem, estava rodeado por centenas de peixes mortos.
A agricultora Helena Zanotto de Oliveira, 77 anos, ficou assustada com o acúmulo de peixes que encontrou mortos no local. “Você não imagina a quantidade. Eram milhares. Inclusive, nunca imaginei que tinham tantos nesse rio. Tinha jundiá, lambari, cascudo, aquela ‘bicharada’ morrendo e a gente sem poder fazer nada”, lamenta.
Diante da situação, o marido, Amantino Inácio de Oliveira, 82 anos, tentou amenizar o estrago, salvando alguns deles. “Tirei uns dois ou três baldes de peixes daqui e levei em um açude que temos aqui perto, não sei se vão reviver, mas levei. Os pobrezinhos estavam morrendo. A gente se assusta, porque é uma judiaria isso”, pontua.
A filha do casal, Izolete de Oliveira, 55 anos, também presenciou o ocorrido. “De peixes pequenos, era como se fosse um formigueiro, nunca tinha visto tanto quanto naquele dia, porque eles vieram tudo para cima, iam se amontando e morrendo”, afirma.
Vizinho da família, Aldomir Marini, 60 anos, também relata nunca ter vivenciado algo parecido. “Moro aqui há trinta anos e uma situação assim nunca tinha visto, já aconteceu de sujar bastante a água, até de morrer peixes, mas não desse jeito, com essa quantidade. A gente se apavora”, desabafa.
Problema vem de anos
Helena percebe que as mudanças negativas no rio vêm ocorrendo há muito tempo. “Antes a água era limpinha, agora não é mais. Meus netos e bisnetos vinham brincar dentro, agora não dá, porque se entram, saem com os pés pretos, parece que foi passado óleo queimado”, conta.
Inicialmente, o problema começou com a sujeira e poluição da água, além do mal cheiro. Entretanto, de acordo com a moradora, chegar ao ponto de encontrar peixes mortos, foi a primeira vez. “Faz tempo que está acontecendo isso, o rio está baixinho e, de repente, mesmo sem chuva, enche e vem sujeira junto com um cheiro terrível, que não dá para suportar. Agora piorou, porque os peixes começaram a morrer”, desabafa.
Entristecida com a situação, ela pede mais consciência com o meio ambiente. “Não me conformo do ser humano fazer isso com a mãe água, com os peixinhos. Estão matando o rio. É triste. Fico decepcionada. Se nós não cuidarmos da natureza, o que vai ser do futuro? Temos que ter consciência do que estamos fazendo no mundo”, alerta.
Avaliação da AAECO
O presidente da Associação Ativista Ecológica (AAECO) Gilnei Rigotto, que já tinha conhecimento da situação, explica o que pode ter ocorrido. “Em casos de arroios e rios é mais provável que seja despejo de esgoto não tratado e lodo ou outros produtos químicos de empresas, que são despojados criminosamente”, pontua.
O que diz a prefeitura
Em contato com o poder público municipal de Bento Gonçalves, para verificar se alguma ação vai ser feita para descobrir o que causou a mortandade dos peixes, a reportagem foi informada que “a Secretaria do Meio Ambiente nos passou que recebeu as informações sobre o caso, porém a área pertence ao Município de Farroupilha. De imediato foi repassado aos órgãos responsáveis para que seja tomada as providências necessárias para descobrir a origem da mortandade dos peixes. A fiscalização está acompanhando o andamento”, conclui.
Já a assessoria da prefeitura de Farroupilha, após fazer uma análise da área, de acordo com as coordenadas do local informadas pela reportagem, verificou que o local não pertence ao município. “Em contato com a secretaria de meio ambiente, até a secretaria me trouxe um mapa impresso para olharmos e a princípio, o que conseguimos observar com as coordenadas passadas é que essa área não pertence a Farroupilha. É possível que pertença a Bento”, afirma.