De acordo com as agricultoras Lélia Assunta Basso Cecconi e Gentilia Pasini Gonzatti, morar no interior é gratificante. Além disso, elas estão entusiasmadas com a próxima colheita

Localizada no município de Monte Belo do Sul, o 80 da Leopoldina abriga cerca de 40 famílias, que vivem da produção de uva, além de frutas, verduras, legumes e hortaliças para consumo próprio. Os agricultores que residem na comunidade, preservam a tradição e tranquilidade da região.

Lélia Assunta Basso Cecconi, 57 anos, cultiva uvas desde que casou com o marido, Adair Cecconi. Além de plantar pêssegos, tomates, verduras e hortaliças para uso familiar. De acordo com Lélia, a produção de uvas está muito boa neste ano e a expectativa é de uma safra grande e de qualidade. ‘Temos as variedades viníferas que estão em alta para elaborar espumantes, como Trebbiano Toscano, Prosecco e Moscato, as comuns mais usadas para sucos, como BRS Cora, Isabel e Bordô, e as de mesa, como Niagra e Rainha Itália”, cita.

A agricultora mora na localidade desde a década de 80, quando iniciou uma vida junto com o marido. Ela conta que os primeiros parreirais foram plantados na época que seu sogro era mais jovem. “Nestes 35 anos, mudou muita coisa. Quando casei, morei três anos com minha sogra, depois começamos a trabalhar junto com os pais do meu companheiro. Nos davam uma porcentagem e com ela, fomos guardando dinheiro para comprar uma terra e começamos a construir nosso lar”, recorda.

Lélia Assunta Basso Cecconi está entusiasmada com a boa perspectiva da safra

Ela e o marido foram plantando cada vez mais e, hoje, têm cerca de 14 hectares de uvas, que são vendidas para uma cooperativa da região. “As de mesa são utilizadas principalmente para o turismo. Temos um café e os turistas vem para pegar as uvas do parreiral. Ter esses visitantes aqui é muito bom, gosto de conversar com eles e conhecer suas histórias”, ressalta.

Lélia conta que a história de seus sogros é muito bonita. Seu Balduíno era de uma família muito humilde e trabalhava consertando estradas. Naquela época não tinham máquinas e tudo se arrumava manualmente. “Minha sogra, Cacilda, era de uma família muito bem de vida. Quando Balduíno passava, ela saia para a janela para vê-lo. Eles começaram a conversar e com o tempo, tornaram-se namorados”. Depois, os apaixonados começaram a vida juntos e passaram por muita dificuldade ao longo do tempo, mas superaram e viveram felizes por mais de 60 anos. Infelizmente, ela faleceu recentemente. “Seguidamente ele me diz ‘naquele tempo eu era muito simples, não sei como a nona me quis’, mas meu sogro sempre foi um homem trabalhador e veio de uma boa família. Tiveram dois filhos, o meu esposo e meu cunhado, que não seguiu na agricultura. Juntamente com Adair, segui cuidando das terras que eram do pai dele”, relata.

Para ela, morar no 80 da Leopoldina é muito tranquilo. “Adoro viver aqui, não trocaria por nada”, sublinha. Lélia destaca a qualidade do estudo e o cuidados que a prefeitura tem com as crianças. “Um ônibus vem busca-las na comunidade em todos os dias letivos, tudo por conta do município”, menciona.

A saúde também é elogiada pela agricultora, por mais que ela tenha um plano particular de Bento Gonçalves. “Temos um posto de saúde para consultar em Monte Belo do Sul, que é muito bom e o atendimento é ótimo”, valoriza. De acordo com ela, a coleta de lixo também é respeitada, por mais que passe somente uma vez por mês. “Separamos tudo certinho. O lixo orgânico não dá para ficar tanto tempo parado, então levamos num ponto de coleta na cidade”, completa.

A paisagem que exibe o trabalho

A agricultora Gentilia Pasini Gonzatti mora na comunidade há quase 40 anos e conta que era tudo diferente. “Minha família tinha somente um trator e umas caixas para a colheita da uva. Havia muitas taipas, coisa que hoje não existe mais”, recorda. Além disso, naquele tempo era mais tranquilo, ela lembra que ia dormir e nem sequer tinham chaves nas portas.

Ela cultiva uvas das variedades Merlot, Tannat, Egiodola, Riesling, Lorena, Prosecco, Isabel, BRS Cora e Bordô, tendo suas parreiras como paisagem para muitos turistas apreciarem. Apesar do trabalho árduo, Gentilia não trocaria o conforto de morar no interior. “É um privilégio que muitos gostariam de ter, principalmente em nosso município. A educação é muito boa, passa ônibus para pegar as crianças que estudam em Monte Belo do Sul. A coleta de lixo é feita uma vez por mês”, revela.

A beleza da paisagem vista todos os dias por Gentilia, que gosta do movimento turístico na região

Segundo a agricultora, o turismo aumentou gradativamente na região e uma consideravel quantidade de turistas passa pelo local em diversas épocas do ano. A expectativa da safra de 2023 é de sucesso. “De modo geral e por qualidade, algumas são melhores que as outras. A próxima colheita será boa e vai superar a de 2022”, fala.

Com o crescimento do local, várias coisas foram se modificando. “A igreja não era onde ela está hoje, localizava-se mais para frente, mudaram para fazer o pátio do estacionamento. Era tudo muito diferente”, conta. De acordo com Gentilia, na linha 80 da Leopoldina é tudo muito próximo, o que facilita para os moradores. “Além disso, é uma comunidade aonde as pessoas se ajudam quando necessário”, afirma.

Além do plantio, Gentilia tem dez ovelhas, que vivem em um largo campo verde que, conforme a agricultora, possui uma das vistas mais bonitas da Igreja Matriz São Francisco de Assis, localizada em Monte Belo do Sul, e dos parreirais de sua família. “Há 12 anos, começamos a criar ovelhas para consumo próprio e também para as crianças se acostumarem a cuidar e gostar dos bichinhos. São animais muito dóceis e amigos das pessoas”, conclui.